Título: País tem 1º superávit trimestral que cobre juros
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 01/05/2008, Economia, p. 30

Com arrecadação de impostos maior e demora em aprovar o Orçamento, resultado nominal atinge R$3,043 bi.

BRASÍLIA. O Banco Central informou ontem que, pela primeira vez na História, o Brasil registrou superávit nominal (receitas menos despesas, incluindo os juros da dívida) no primeiro trimestre. Os fatores que contribuíram para o resultado foram o crescimento cada vez mais acelerado da arrecadação de impostos e contribuições e a demora para a aprovação do Orçamento de 2008. Ou seja, o país conseguiu garantir receita mais do que suficiente para pagar todas as suas despesas e também os juros da dívida pública, que teve sua relação com o Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) diminuída para 41,2% em março, o menor nível em quase dez anos.

A relação dívida/PIB é uma das principais variáveis checadas pelas agências de classificação de risco para determinar os graus de cada economia. Não por menos, ontem a Standard and Poor"s anunciou a elevação do Brasil para "grau de investimento", concedido às economias com baixíssimo risco de insolvência, de não honrar pagamentos de dívidas.

Dívida líquida do setor público cai a 41,2% do PIB

A dívida líquida do setor público chegou em março a R$1,141 trilhão, correspondendo a 41,2% do PIB. Em fevereiro, a relação estava em 42,2% e o recuo, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, veio do endividamento menor e da depreciação cambial de 3,91% no período. Mesmo com a melhora significativa, a estimativa do BC para 2008 ainda é de 41,3%, percentual que no entanto é decrescente em relação aos anos anteriores. Em 2007, a dívida foi de 42,7% do PIB.

Ainda segundo o BC, o país registrou superávit nominal no mês passado de R$3,990 bilhões, recorde para março e que acabou contribuindo para fechar o trimestre com saldo positivo de R$3,043 bilhões, o primeiro resultado no azul nesses períodos desde o início da série histórica, em 1991. O número veio da composição de um superávit primário - que computa apenas as receitas e despesas, sem os desembolsos com juros - recorde de R$43,032 bilhões no período, com gastos com juros de R$39,988 bilhões.

Tudo isso praticamente garante que o governo cumprirá a meta de superávit primário de 3,8% do PIB este ano. Em março, no fluxo de 12 meses, o resultado chegou a 4,46%. Apesar das boas notícias, o céu de brigadeiro não deve durar, já que as despesas maiores do setor público, sobretudo do governo federal, começam a aumentar após os primeiros meses do ano.

- A tendência é haver uma conversão para a meta de 3,8% do PIB. Isso é natural - disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Economista critica governo por aumentar gastos

De longe, as contas do governo federal ajudaram mais nos saldos recordes. Em março, o superávit primário ficou em R$13,707 bilhões, 58,7% a mais do que no mesmo mês de 2007, com as receitas crescendo R$5,4 bilhões e as despesas, R$600 milhões. Na avaliação do economista-chefe do West LB, Roberto Padovani, aí o Brasil mostra vulnerabilidade, porque deveria conter seus gastos:

- O país tem usado a arrecadação maior para aumentar gastos, e isso segura reduções de juros e leva a um crescimento menor.