Título: Desaparece outra testemunha contra ditadura argentina
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Fonte: O Globo, 01/05/2008, O Mundo, p. 36
Mais de 200 policiais mobilizados na busca por ativista de direitos humanos.
BUENOS AIRES. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, manifestou ontem sua preocupação com o desaparecimento em Buenos Aires de Juan Evaristo Puthod ¿ um militante de direitos humanos vítima de torturas e testemunha em vários processos contra repressores da ditadura militar.
¿ Tomei conhecimento do desaparecimento de uma testemunha-chave nos julgamentos por direitos humanos. Espero que seja algo momentâneo. Estamos muito preocupados ¿ disse a presidente.
Puthod, de 49 anos, desapareceu na tarde de terça-feira em Zárate (86 quilômetros ao norte de Buenos Aires), ao sair de seu escritório numa organização de direitos humanos para ir à emissora de rádio onde tem um programa. Ele tem problemas cardíacos e sempre se mantém em contato. Um primo de Puthod, Eduardo, contou que o ativista havia recebido ameaças um ano e meio atrás.
Desaparecido em 2006, López nunca foi encontrado
Cerca de 250 policiais foram mobilizados nas buscas a Puthod, além de seis helicópteros. As preocupações são grandes porque seu desaparecimento se segue ao de Jorge Julio López, testemunha no processo que condenou à prisão perpétua Miguel Etchecolatz, ex-chefe da polícia da província de Buenos Aires. López desapareceu em 18 de setembro de 2006 e nunca mais foi encontrado.
Puthod é sobrevivente de um centro ilegal de detenção durante a ditadura e testemunha em vários processos de crimes contra a Humanidade, entre eles num caso contra o ex-subcomissário Luis Patti. Eleito legislador em 2005, Patti foi detido na semana passada acusado de violar direitos humanos.
Em dezembro de 2006, outra testemunha contra Patti foi seqüestrada após depor diante de uma comissão parlamentar que analisava as denúncias contra o ex-subcomissário. O operário Luis Gerez foi mantido em cativeiro por 48 horas, num caso nunca esclarecido.
O governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, também está preocupado.
¿ Estamos procurando Puthod com firmeza. O governo é o responsável máximo por avançar rapidamente na luta contra o crime em todas as suas formas ¿ disse o governador.
Puthod trabalha na Casa da Memória de Zárate, em homenagem aos mortos pela ditadura (1976-1983). Durante o período desapareceram cerca de 30 mil pessoas, segundo organizações de direitos humanos. Outras fontes falam em 11 mil casos.
O ex-presidente Néstor Kirchner impulsionou, a partir de 2003, a reabertura dos casos da ditadura, que estavam congelados pelas leis de anistia. O Congresso derrubou essas leis no mesmo ano e, em 2005, a Corte Suprema de Justiça as considerou inconstitucionais. Desde então, dezenas de processos foram reabertos.