Título: Paulinho protesta contra Polícia Federal
Autor: Pereira, Merval
Fonte: O Globo, 02/05/2008, O País, p. 4

Ministro do Trabalho pede segredo de Justiça na apuração de denúncias.

SÃO PAULO. O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, reclamou ontem que ainda não teve sequer acesso ao relatório da Polícia Federal sobre o desvio de recursos do BNDES. Disse que, por isso, não tem como se defender das acusações de envolvimento no esquema de desvio de recursos. A entrevista do dirigente foi concedida antes de O GLOBO ter acesso ao trecho do relatório da PF que o acusa de receber propina R$325 mil. Depois, Paulinho não respondeu aos telefonemas do repórter.

- Como é que eu vou me defender de uma coisa que não me deram? - perguntou.

Paulinho voltou a protestar por não ter tido acesso a uma cópia completa do relatório da PF no qual são levantadas as suspeitas contra ele.

- Eu sei menos do que a imprensa, porque para a imprensa a PF deu todo o dossiê, ou seja lá o quer for, um processo. Eu, para ter acesso a esse processo, pedi aos meus advogados para irem buscar. Mas o delegado disse que meus advogados só poderiam fotografar um laudo e tirar algumas cópias - queixou-se, lembrando que conseguiu fotografar 39 páginas de um processo que teria mais de 300.

Perguntado se avaliava como exagero da Polícia Federal a divulgação das suspeitas, Paulinho se esquivou:

- Não posso falar mais nada. Vocês sabem mais do que eu.

Lupi pede que deputado não seja condenado sem defesa

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, um dos poucos a participar da festa de 1º de Maio da Força Sindical ao lado de Paulinho, pediu que o deputado não seja condenado sem chance de defesa. Lupi, que já havia se solidarizado quarta-feira com o companheiro de partido, comparou as acusações feitas a procedimentos da ditadura militar, e voltou a pedir cuidado para que as denúncias não se tornem um "tribunal de inquisição".

As novas declarações foram dadas durante a festa pelo 1º de Maio organizada pela Força Sindical, central presidida por Paulinho. Na avaliação do ministro, só há indícios e não provas concretas. Ainda segundo Lupi, é preciso que haja segredo de Justiça nesta apuração e garantias ao direito de defesa.

- Qual é a prova? O que há de fato até agora? Alguém ouviu falar de alguém? Talvez seja o deputado Paulinho. Eu tenho muito cuidado, porque isso foi um processo da ditadura. O processo da ditadura, dos regimes arbitrários, condenava sem dar direito a defesa - disse Carlos Lupi, afirmando que Paulinho não pode ser prejulgado:

- Diz a Justiça: todo réu é inocente até prova em contrário. Ele nem réu é.

A ministra do Turismo, Marta Suplicy, provável candidata do PT à prefeitura de São Paulo e que espera ter o apoio do PDT de Paulinho, disse que não sabia se havia denúncias contra Paulinho.

- As denúncias são denúncias que... não sei, nem sei se são denúncias, para falar a verdade - esquivou-se Marta, que participou do evento.