Título: Brazil Day em Nova York
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 02/05/2008, Economia, p. 27

Após grau de investimento, recibos de ações brasileiras disparam e título da dívida bate recorde.

No dia seguinte à elevação do Brasil a grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P), as ações de empresas brasileiras continuaram em alta. Apesar do feriado do Dia do Trabalho no Brasil, papéis de importantes companhias brasileiras são negociados na Bolsa de Nova York por meio de recibos de ações, os ADRs. Esses papéis subiram ontem, em média 2,41%. Dos 35 ADRs brasileiros negociados, apenas cinco tiveram desvalorização. Também tiveram valorização os títulos da dívida externa brasileira, diretamente afetados pela nota. O mais negociado, o Global 40, com vencimento em 2040, subiu 1,09%, para 137% do valor de face, o maior valor histórico. Na véspera, já havia subido 0,74%.

Os papéis de Gol, Bradesco, Braskem, Vivo, Itaú e AmBev avançaram mais de 5%. Na véspera, todos subiram, com alta média de 6,45%, e de mais de 10% nos recibos de ações de Gafisa, Unibanco, TAM e Perdigão. Após a nota, o principal indicador da Bolsa brasileira, o Índice Bovespa (Ibovespa) reassumiu sua liderança mundial em relação aos 20 principais índices de ações do mundo este ano.

O grau de investimento anunciado na quarta-feira foi para a dívida brasileira, mas influencia papéis de dívida e ações de empresas do país, mesmo das 13 que já tinham a nota pela S&P: Alcoa, AmBev, Aracruz, Bradesco, Embraer, Gerdau, Itaú, Itaú BBA, Petrobras, Usiminas, Vale, Votorantim e Votrantim Celulose. Com a elevação dos títulos brasileiros, mais sete passaram ao time: Eletrobrás, Banco do Brasil, BNDES, Banco do Nordeste, Santander, HSBC e Unibanco.

- Nenhuma corrente pode ser mais forte que seu elo mais fraco. Um monte de empresas brasileiras já tem investment grade (grau de investimento). O elo fraco era o Brasil, que agora ficou um pouco mais forte, deixando toda a corrente um pouco mais forte - disse Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora, lembrando a frase de Henry Ford.

O Fundo Monetário Internacional afirmou que o grau de investimento vai reduzir a percepção de risco do país e atrair mais investimentos estrangeiros. O diretor para o Hemisfério Ocidental, Anoop Singh, disse que isso cria um cenário para que o governo aprofunde as reformas.

Em entrevista ao "Jornal Nacional", o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, considerou o fato "algo histórico", mas ressaltou que deve servir para que o país mantenha sua política monetária.

Apesar do otimismo, os carros-chefes do mercado brasileiro, os papéis de Vale e Petrobras, abriram a quinta-feira em queda nos EUA. Isso se deveu à desvalorização das commodities (matérias-primas, como petróleo e minério de ferro), com a expectativa de de que o corte de 0,25 ponto nos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no dia anterior, para 2% ao ano, tenha sido o último do ciclo recente. Com isso, o dólar se fortalece, e as commodities tendem a cair. Ao longo do dia, os ADRs da Petrobras se recuperaram e subiram 1,31% (ações preferenciais, PN, sem voto) e 0,44% (ordinárias, ON, com voto). Já os da Vale caíram 2,07% (ONs) e 1,60% (PNAs).

Índice Dow Jones avança 1,48%

O barril do petróleo leve recuou 0,83%, para US$112,52, e o do Brent, 0,78%, para US$100,50. O possível fim do corte nos juros também fez o euro recuar 1,16% frente ao dólar, para US$1,5461. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1,48% e fechou acima dos 13 mil pontos (13.010) pela primeira vez desde 3 de janeiro, e o eletrônico Nasdaq subiu 2,81%, com investidores apostando que o pior da crise já passou. O Banco da Inglaterra afirmou que a crise já dá sinais de alívio. Mas alertou que há risco de os bancos não entenderem que a situação financeira mundial está melhorando e continuem relutando em oferecer crédito.

Nem os pedidos de seguro-desemprego nos EUA desanimaram: 380 mil na semana passada, contra previsão de 360 mil. Já os gastos do consumidor cresceram mais do que previsto em março: 0,4%. Hoje será divulgado o índice de desemprego de abril.

COLABOROU Erica Ribeiro, com agências internacionais e Bloomberg News