Título: Áustria: filho de maníaco teria acesso ao porão
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Fonte: O Globo, 02/05/2008, O Mundo, p. 31

Inquilino dos Fritzl disse ter visto homem ir ao subsolo, onde engenheiro manteve a filha presa por décadas.

VIENA. Um inquilino na casa de Josef Fritzl, em Amstetten, disse ter visto um dos filhos do engenheiro descer ao porão ¿ onde o austríaco manteve a filha Elisabeth presa por 24 anos num compartimento secreto. Alfred Dubanovsky contou ter alugado um quarto na casa de Fritzl de 1995 a 2007, e que tanto ele como outros inquilinos eram proibidos de irem ao porão ou ao jardim, sob ameaça de serem despejados.

Dubanovsky contou ainda que, quando viu o jovem ¿ que também se chama Josef Fritzl ¿ descer ao porão, pediu para falar com ele, mas que o pai respondeu que o filho estava trabalhando e não deveria ser distraído, informou a rede americana CNN. Não está claro se o jovem Fritzl tinha acesso ao compartimento secreto.

Por 24 anos, Fritzl manteve Elisabeth presa, violentando-a repetidas vezes e tendo sete filhos com ela, num caso descoberto somente no sábado. Três das crianças cresceram com ela no porão, três ele simulou terem sido deixadas em sua porta e uma outra morreu.

De seu quarto, no térreo, Dubanovsky ouvia barulhos estranhos vindos do chão, mas Fritzl dizia ser ruídos da tubulação de aquecimento.

Segundo a polícia, Fritzl ameaçava Elisabeth e os filhos de injetar gás no porão para matá-los caso ¿algo lhe acontecesse¿. No depoimento, ele disse ainda que a porta do porão se abriria automaticamente caso ficasse muito tempo ausente.

¿ Mas ainda não comprovamos essas afirmações ¿ disse Helmut Greiner, da Polícia Federal. ¿ Estão examinando como o mecanismo funciona. Ele afirmou que a porta se abriria caso se ausentasse por um determinado período.

Fritzl chegou a imitar a voz da filha num telefonema em 1994 para a mulher, Rosemarie, pedindo que cuidasse do filho deixado em sua porta.

¿ Sabemos que foi Fritzl (quem ligou) ¿ disse o policial Reinhard Nosofsky.

Passagem pelo Brasil na década de 60

Josef costumava ir todas as manhãs, por volta das 9h, ao porão, ¿aparentemente para projetar máquinas que vendia a empresas¿, contou a cunhada, Christine R., ao jornal ¿Oesterreich¿, que não revelou seu sobrenome. ¿Era um déspota, eu o odiava¿, disse Christine, acrescentando que o cunhado passava horas no porão. ¿Às vezes passava a noite toda ali. Agora sabemos por quê¿. Ela contou que o cunhado humilhava a esposa e maltratava os filhos.

Após a descoberta do caso, não só a polícia, mas a imprensa também tem vasculhado a vida de Fritzl. De acordo com o jornal ¿Kurier¿, o engenheiro trabalhou na construção de uma hidrelétrica no Brasil na década de 60, informou a BBC Brasil. O jornal, que obteve a informação com um ex-colega de trabalho, contou que Fritzl trabalhou até 1967 para a construtora Voest Alpine, com sede em Linz. Parte da empresa foi vendida para a Andritz, e ambas dizem não ter registros de funcionários da época. Já jornal local ¿Ö Nachrichten¿ entrevistou uma mulher em Linz que afirma ter sido violentada por Fritzl em 1967.

Elisabeth e os filhos estão numa clínica psiquiátrica, enquanto a filha mais velha, Kerstin, de 19 anos, está internada, em coma induzido, num hospital. Ela tem um grave problema renal, agravado pelo fato de não ter recebido tratamento médico antes.