Título: Ciclone deixa mais de 3.500 sem casa no Sul
Autor: Baldissarelli, Adriana; Barros, Higino
Fonte: O Globo, 05/05/2008, O País, p. 5

Em Santa Catarina, 44 famílias estão desabrigadas e 31 cidades foram afetadas.

FLORIANÓPOLIS E PORTO ALEGRE. O ciclone extratropical que atingiu a Região Sul no fim de semana e matou duas pessoas chegou a deixar 25 mil desabrigados no Rio Grande do Sul, mas ontem à noite esse número caiu para 3.500, segundo a Defesa Civil. Em Santa Catarina, pelo menos 44 famílias estão desabrigadas e há centenas de casas ilhadas. No total, 31 municípios foram afetados. Mais de 300 mil pessoas ficaram temporariamente sem luz com a chuva e os fortes ventos, que passaram dos 100 quilômetros por hora.

Ontem, no Rio Grande do Sul, 50 mil pessoas ainda continuavam sem energia elétrica. Michele da Rosa Dias, de 21 anos, foi atingida no sábado pela descarga elétrica de um fio que caiu de um poste e ficou inconsciente, sofrendo queimaduras nas pernas, nos pés e nas mãos, mas ontem apresentou melhoras.

Bombeiros de Porto Alegre receberam 5 mil chamadas

Os bombeiros da capital gaúcha atenderam mais de cinco mil chamados desde sexta-feira. Cerca de 70 pessoas que moram numa vila ao lado do Hipódromo do Cristal, em Porto Alegre, chegaram a ser abrigadas em dois ônibus, cedidos pela prefeitura. O coordenador da Defesa Civil da capital, coronel Sidnei Viapiana, afirmou que foi a única solução encontrada.

¿ As pessoas não quiseram deixar o local próximo às suas casas, com receio que elas fossem roubadas ¿ disse.

A principal preocupação das pessoas ao retornar para casa ontem era contabilizar os prejuízos materiais. O biscateiro Mario Araújo de Morais, de 41 anos, morador da Vila Beco dos Herdeiros, teve sua casa totalmente destruída. Ao lado da mulher e dois filhos pequenos, ele se abrigou na escola estadual Sylvio Torres :

¿ Muita gente na minha vila perdeu tudo. O arroio Dilúvio transbordou muito rapidamente e só deu tempo de sair às pressas ¿ disse Mario.

Em Santa Catarina, BR-101 é interditada

Os prefeitos de Tramandaí e Itati, Rolante e Parobé, no litoral norte, vão decretar estado de emergência em seus municípios, juntando-se aos de Santo Antônio da Patrulha e Caraá.

Em Santa Catarina, a prefeitura de Ermo, onde houve a destruição de 40 casas e de um posto de saúde, pediu a decretação de estado de calamidade pública. Outras três cidades (Jacinto Machado, Paulo Lopes e Balneário Arroio Silva) informaram situação de emergência. Em Jacinto Machado, quatro famílias foram obrigadas a deixar suas casas, atingidas pelas águas, e outras 300 ficaram ilhadas com a elevação do Rio da Pedra. Em Morro Grande, o nível do Rio Manoel Alves subiu a ponto de isolar as comunidades de Nova Roma, Três Barras e São Bento. Já em Praia Grande, o Rio Mampituba transbordou e famílias foram removidas. O acesso a este município, pela Serra Geral, está interditado.

No fim da tarde de ontem, Santa Catarina também perdeu o acesso ao Rio Grande do Sul pela BR-101. A lâmina de água de até 30 centímetros sobre a pista da rodovia, entre os quilômetros 403 e 412, fez a Polícia Rodoviária Federal interditar o tráfego de veículos.

*Especial para O GLOBO