Título: Recife se transforma na capital do evento
Autor: Kuck, Deniis; Bastos, Isabela
Fonte: O Globo, 05/05/2008, Rio, p. 8

Outras cidades tiveram manifestações.

PORTO ALEGRE, RECIFE e RIO. "Pernambuco não tem vergonha, legaliza a maconha". Com essas palavras de ordem, foi realizada, na tarde de ontem, a Marcha da Maconha em Recife. A cidade foi a única das dez capitais programadas onde o evento não teve qualquer manifestação contrária da Justiça. De acordo com os organizadores, cerca de mil pessoas estiveram na passeata pelas ruas do Recife Antigo. Já a PM estimou entre 1.500 e três mil o número de participantes. Em outras três cidades - Porto Alegre, Florianópolis e Vitória -, os organizadores conseguiram derrubar liminares que proibiam o evento, mas não houve passeatas, apenas manifestações, com público reduzido.

Em São Paulo e em Salvador, cidades onde a marcha foi proibida, houve protestos. Na capital baiana, oito jovens com idades entre 17 e 27 anos foram detidos por policiais da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes sob a acusação de apologia às drogas. Eles foram liberados, mas terão de responder judicialmente.

Em Recife, todo o trajeto foi acompanhado à distância pelos policiais. Um cigarro da droga foi aceso, mas não houve qualquer tumulto ou repressão. Se o Rio teve pela manhã uma marcha contra a droga em Copacabana, na capital pernambucana os manifestantes foram acompanhados por evangélicos que entregavam panfletos. A passeata foi marcada pelo bom humor com paródias de hinos de torcidas como "sou maconheiro, com muito orgulho, com muito amor". Muitos participantes carregavam grandes charutos, de quase meio metro, recheados com folhas de capim.

Poucas pessoas usaram disfarces, como as máscaras divulgadas no site do evento. O instrumentista e produtor musical José Vasconcelos de Oliveira, o Zé da Flauta, de 53 anos, afirmou que a manifestação de ontem foi muito válida:

- É mais fácil extrair da terra um quilo de maconha do que um litro de petróleo. É preciso acabar com o preconceito. A maconha pode ser a redenção do Nordeste e do Brasil.

Na capital capixaba, a manifestação, em frente à entrada principal da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), começou por volta das 16h, com duas horas de atraso, e reuniu cerca de 30 pessoas, de acordo com estimativa da PM.

Em Porto Alegre, apesar de não estar vetada pela Justiça, a Marcha da Maconha foi substituída por intervenções artísticas e distribuição de panfletos. Um grupo de 20 pessoas se reuniu às 14h, atrás do Instituto da Educação. Foi feito um enterro simbólico das proibições de outras marchas semelhantes no país e o grupo se dirigiu ao Brique da Redenção (uma feira de artesanato), tradicional ponto de encontro dos gaúchos que, por causa da chuva, teve pouca freqüência de público.

COLABORARAM: Higino Barros e Ruben Berta