Título: Aval internacional, ganho também para brasileiro
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 05/05/2008, Economia, p. 18

Analistas mostram os setores da Bovespa que podem se beneficiar do grau de investimento obtido pelo país

Com a concessão do grau de investimento ao Brasil, na quarta-feira passada, pela agência de classificação de risco Standard & Poor"s, pode ser hora de o pequeno investidor reavaliar as finanças para aproveitar o selo de segurança, que alça o país ao seleto grupo de bons pagadores. Para especialistas, o momento é de aplicar em ações de empresas voltadas ao mercado interno, como as de bebidas, alimentos, construção civil e varejo. Para os mais conservadores, é bom começar devagar, alertam especialistas, aplicando entre 10% e 20% do orçamento em opções um pouco mais arriscadas.

É que, com o grau de investimento, mais investidores estrangeiros vão aplicar no país. Dessa forma, entrarão mais dólares, pressionando a cotação da moeda americana para baixo. Com isso, a inflação será beneficiada, já que os produtos importados deverão ficar mais baratos. Além disso, como o país estará mais seguro, o risco deverá cair, fazendo com que a taxa de juros reais sofram uma queda. Para economistas, com um custo menor, o financiamento deverá ganhar força, impulsionando as vendas de empresas voltadas para o mercado nacional.

- Bancos, construtoras e empresas como as redes de departamento, as de informática, as construtoras e as de peças automotivas tendem a se beneficiar com a melhora da economia, que terá forte impacto do grau de investimento. Esses papéis, considerados de segunda e terceira linhas, vão ter uma boa valorização nos próximos meses, pois as ações estão muito baratas, já que, nos últimos meses, os investidores estrangeiros venderam esses papéis devido à crise financeira global, pressionando para baixo o valor das ações. Porém, o fundamento dessas companhias continuou bom - explica Eduardo Roche, gerente de análise da Modal Asset Management.

Por isso, analistas sugerem que o pequeno investidor faça algumas alterações no seu portfólio de investimentos. Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de relações internacionais da ESPM-RJ e economista-chefe da Plenus Gestão de Recursos, diz que o ideal é vender parte das ações do setor de mineração e comprar papéis de segmentos voltados ao mercado interno:

- Em apenas dois dias, algumas ações de supermercados e construtoras tiveram alta superior a 30%. Teve muita gente ganhando dinheiro com esses papéis. Por isso, a compra dessas ações é recomendada. Quem tem ações do setor de petróleo deve manter, pois há expectativas de novas descobertas, o que pode impulsionar o setor. E ainda há o reajuste de combustíveis, o que acaba beneficiando o acionista - afirma Espírito Santo.

Outros dois setores devem ser olhados com bons olhos, segundo os analistas: o de energia elétrica, o que inclui ainda energia alternativa, e o de infra-estrutura. O economista da ESPM-RJ diz que, para a economia crescer mais de 5% ao ano, serão necessários mais investimentos no setor de energia. Além disso, a construção de casas deverá ter forte aumento com o crescimento da renda da classe média.

- Com a queda dos juros reais na economia, o parcelamento vai ganhar ainda mais força. A oferta de crédito vai aumentar. É por isso que as ações de bancos deverão ter valorização. Mas é preciso analisar bem a instituição financeira e os diferentes produtos que ela oferece, até porque haverá um aumento da competição no setor. Apesar de os juros caírem a médio e longo prazos, os bancos vão ganhar em volume - ressalta Saulo Sabbá, diretor-executivo da Máxima Asset.

Para Sabbá, esses papéis devem crescer mais, principalmente depois de uma segunda agência de classificação de risco conceder o grau de investimento ao país. Segundo o analista, alguns fundos estrangeiros - que têm alto patrimônio e são conservadores - precisam que duas agências internacionais de risco concedam o grau de investimento para aplicar em países emergentes como o Brasil.

Investidor conservador pode começar a aplicar em ações

Porém, quem nunca comprou ações deve, em um primeiro momento, procurar aplicar em um fundo de ações, pois o gestor fica com a responsabilidade de gerir a carteira com os papéis. Para Espírito Santo, da ESPM-RJ, o investidor que tem dinheiro aplicado em fundos multimercados pode migrar para um modelo com mais ações, já que o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, subiu 40% em 12 meses.

- É preciso conhecer o histórico de ganhos do gestor para poder aplicar em um fundo que acumula muitos ganhos. A habilidade do gestor é fundamental - diz Espírito Santo.

O investidor que aplica em fundos tidos como conservadores, como a renda fixa e a poupança, deve apenas aplicar parte em ações. O mais recomendado é, no mínimo, 10% em renda variável e, no máximo, 20%. Para analistas, o investidor pode ter ganhos, já que a Selic, a taxa básica de juros da economia, voltou a subir e ainda há a expectativa de alta de até meio ponto percentual este ano, segundo Espírito Santo:

- Sair de aplicações mais conservadoras nesse momento não é bom negócio, pois haverá ganhos com a alta dos juros.