Título: Governador diz que ação indígena foi terrorista
Autor: Marques, Ana; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 07/05/2008, O País, p. 3

José de Anchieta Júnior defende líderes arrozeiros

BRASÍLIA e BELÉM. Na contramão da posição do governo federal, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), afirmou ontem que a invasão da fazenda do prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, líder dos arrozeiros da Reserva Raposa Serra do Sol, foi um ato de terrorismo dos índios. Anchieta disse suspeitar que, por trás da ação dos índios, haja interesses internacionais de explorar a riqueza da região.

- A invasão de ontem foi uma ação terrorista. E terrorismo é difícil de conter - afirmou o governador, em visita ao Palácio do Planalto, onde se reuniu com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Poucos minutos depois, Anchieta amenizou o discurso e substituiu o termo terrorismo por insanidade. Oficialmente, ele se reuniu com o ministro para discutir a liberação de recursos federais para Roraima.

Para Anchieta, a ação dos índios foi "induzida por alguém". O governador disse que os índios e os arrozeiros deveriam esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda este mês deve se pronunciar sobre a operação para a demarcação da reserva. Anchieta disse, antes dessa decisão, não há motivos para conflitos.

- Não querendo generalizar, porque tem ONGs sérias, com trabalho humanitário, mas algumas ONGs estrangeiras estão visando toda aquela riqueza da Amazônia. Há interesses internacionais por trás disso - afirmou.

O governador também esteve no STF para apresentar os argumentos do estado, contra a demarcação da reserva em terra contínua, como prevê o decreto do governo federal que homologou a Raposa Serra do Sol. Ele disse que defende o desenvolvimento do estado e não a posição dos arrozeiros, que se recusam a deixar a terra indígena:

- Não estou aqui defendendo o interesse de meia dúzia de empresários arrozeiros, não. Estou defendendo o interesse do meu estado, do qual 47% já são demarcações indígenas. Estou buscando, aqui, uma solução para o desenvolvimento do estado. Tenho o apoio de 80% das comunidades indígenas de Roraima.

Conselho Indigenista pede prisão de empregados da fazenda

Já o Conselho Indigenista de Roraima (CIR) enviou ontem ao ministro da Justiça, Tarso Genro, um pedido para que a Polícia Federal prenda os "jagunços terroristas" que feriram dez indígenas no confronto na fazenda Depósito, de Quartiero, na comunidade Surumu.

- Se o ministro da Justiça quer justiça, que mande prender os jagunços do Quartiero que atiraram nos índios - disse Julio de Souza Macuxi, um dos coordenadores do CIR.

Antes de ser preso, Quartiero - que também preside a Associação dos Produtores de Arroz de Roraima - negou que tenha dado orientação a seus funcionários para atacar os índios e acusou os líderes do CIR de estarem sendo manipulados por ONGs indigenistas internacionais.

- Os líderes do CIR são ventríloquos das ONGs - disse Quartiero, que paralisou a retirada de 30 mil toneladas de arroz que estão na fazenda Depósito e que vinham sendo transportadas para fora da área da Raposa Serra do Sol.