Título: Deputado acusa elitizinha sem explicar denúncia
Autor: Jungblut, Cristiane; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 07/05/2008, O País, p. 8

Paulinho abre sigilo bancário, fiscal e telefônico, mas deputados consideram defesa inconsistente

BRASÍLIA. Orientado pela cúpula do PDT na Câmara e pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, iniciou ontem uma estratégia de defesa que incluiu pedido para que a Procuradoria Geral da República (PGR) abra seu sigilo bancário, telefônico e fiscal. Espera, com isso, sensibilizar o procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, e convencê-lo de que nada teme e que é inocente no esquema de desvio de recursos descoberto pela Polícia Federal no BNDES. Sumido desde a prisão de assessores e pessoas ligadas á Força Sindical, ontem ele reapareceu e fez um discurso no plenário, dizendo-se vítima da "elitizinha que não gosta de trabalhador".

A estratégia de defesa de Paulinho foi montada num almoço com o líder da bancada na Câmara e presidente em exercício do PDT, deputado Viera da Cunha (RS), o secretário-geral, Manoel Dias, e o ministro Carlos Lupi. Ao final de seu discurso, ele até foi aplaudido por companheiros no plenário, mas a maioria dos parlamentares presentes considerou a defesa fraca e inconsistente.

- Na votação da Emenda 3 (que manteve obrigatório o imposto sindical) muitos ficaram de mal com nós (sic). Muita gente aqui disse que ia me pegar na esquina. Agora sei porque estou apanhando - disse Paulinho, completando: - A unidade das centrais sindicais em defesa dos trabalhadores deixou muita gente com raiva. Principalmente essa elitizinha que não gosta de trabalhador.

Paulinho fez um resumo do relatório da Polícia Federal e do Ministério Público para dizer que não há qualquer prova de que as citações ali constantes digam respeito a sua pessoa.

- Numa citação de duas pessoas conversando, um fala de um Paulinho, e a Polícia Federal, entre parênteses, diz que possivelmente sou eu. Depois falam num PA, que a Polícia novamente diz que possivelmente é o Paulo Pereira. Em outra citação , um diz ao outro: o Ricardo Tosto e o Paulinho têm muita força lá. Nem eu sabia que tinha essa força toda. Consultei renomados advogados e perguntei: o que tem contra mim? Eles responderam: "não tem nada", senhor presidente! - disse Paulinho, dirigindo-se a Arlindo Chinaglia.

O deputado afirmou que, a partir da divulgação do relatório da PF, passou a suspeito.

- Virei criminoso. Mas quero dizer a meus companheiros que não tenho nada a ver com isso. Não tenho nada a esconder, minha vida é clara e transparente - garantiu.

Paulinho critica PF por não ter prendido assessor

Paulinho criticou a Polícia Federal por não ter prendido o assessor filmado com uma mochila, entrando em seu gabinete e no do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

- Por que não o pegaram, não o prenderam e mostraram se tinha dinheiro na mala? Ficou pairando essa suspeita.

Reafirmando a estratégia por ele traçada, o líder pedetista Vieira da Cunha foi ao microfone apoiar Paulinho.

- Quero cumprimentar o deputado Paulinho pela entrega dos sigilos. Foi uma postura de colaboração nas investigações, de quem não deve e não teme - disse Vieira da Cunha.

Paulinho deixou o plenário certo de ter convencido a maioria da sua inocência:

- Acho que convenci. O plenário foi positivo, ninguém me contestou.