Título: Corregedoria da Câmara investigará Paulinho
Autor: Jungblut, Cristiane; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 07/05/2008, O País, p. 8

EMPRÉSTIMOS SOB SUSPEITA: Inocêncio Oliveira, o corregedor, analisará denúncias da PF a pedido de Chinaglia

Corregedoria da Câmara investigará Paulinho

Já o PDT, partido do presidente da Força Sindical, decide nada fazer diante das denúncias de cobrança de propina

BRASÍLIA. O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, será alvo de uma investigação interna na Câmara. O presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP) pediu ontem à Corregedoria da Casa investigação sobre as denúncias de um esquema de desvios de verbas do BNDES, que envolveriam o deputado. Cuidadoso, Chinaglia disse que o corregedor, deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), analisará o caso. Sabendo que Paulinho falaria no plenário pouco depois, Chinaglia disse que é importante o deputado se explicar.

- Estou repassando ao corregedor todo o noticiário a respeito do caso do BNDES. Acho importante que ele (Paulinho) se explique, importante até para ele. Quando aparece um nome no noticiário, é útil para qualquer um, nessas circunstâncias, dar a sua versão - disse Chinaglia, acrescentando que espera que o corregedor não demore a finalizar a investigação.

Paulinho, segundo relatório da PF, teria recebido propina de R$325 mil, como mostrou reportagem do GLOBO. O Ministério Público Federal enviou ao Supremo Tribunal Federal o inquérito com os indícios de participação de Paulinho no esquema, uma vez que o parlamentar tem direito a foro privilegiado.

Após o discurso de Paulinho, Chinaglia ressaltou que o pedido ao corregedor não cita o parlamentar, apenas encaminha o noticiário sobre o caso:

- Não cito nomes. O corregedor dará o seu parecer e aí é que haverá um posicionamento da Mesa Diretora.

O corregedor pode sugerir o arquivamento, por falta de prova, ou a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética. Para ser arquivado, o parecer tem que ser aprovado pela maioria dos sete integrantes da Mesa.

Pedetista prega afastamento

Depois de quase duas horas de reunião, o PDT acabou decidindo não tomar qualquer atitude contra Paulinho. O partido divulgou carta afirmando que está concedendo ao deputado o "amplo direito de defesa" antes de tomar qualquer atitude. Na reunião, Paulinho avisou que não se afastaria.

Coube ao senador Cristovam Buarque (PDT-DF) redigir a carta. O senador Jefferson Peres nem foi ao encontro.

De manhã, em atitude contrária à da liderança da Câmara, Jefferson Peres (AM), líder do PDT no Senado, defendera que Paulinho se afastasse da executiva do partido até o fim das investigações. Certo de que o PDT não tomaria atitude, Peres nem compareceu à reunião.

- Discordo dessa tese de conspiração de uma elite. Essa tese não me sensibiliza. Ele tem que provar na Justiça que não tem nada a ver com aquela gente toda que foi presa - disse.

- Foi uma defesa muito fraquinha e chocha. Entregar sigilos não significa nada. Por isso que ele entregou - completou Júlio Delgado (PSB-MG).

A estratégia de Paulinho de aparecer ao lado do procurador Antonio Fernando de Souza entregando-lhe uma autorização para a quebra do seu sigilo fracassou. Paulinho foi com um séquito de assessores e parlamentares à Procuradoria. Não sendo recebido, protocolou a carta na portaria.

Enquanto o Supremo recebe mais um processo contra um deputado, a Câmara volta a discutir o fim do foro privilegiado para parlamentares. Chinaglia instala hoje uma comissão especial para analisar a proposta de emenda constitucional.