Título: Cartão corporativo: servidor comprou na própria loja
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/05/2008, O País, p. 11

Fundação da UnB pagou R$77,4 mil à elétrica de burocrata

BRASÍLIA. A oposição ganhou ontem novo fôlego para tentar prorrogar a CPI do Cartão Corporativo. Pela primeira vez, um servidor federal admitiu ter usado dinheiro sacado com o cartão corporativo para fazer compras numa loja da qual é sócio. O chefe do arquivo médico do Hospital Universitário de Brasília, Raimundo Luiz da Silva, disse ter feito "pequenas despesas" na Gilvana Elétrica, batizada com o nome de sua esposa.

Entre abril e setembro de 2006, ele sacou R$17,7 mil em caixas do Banco do Brasil para cobrir despesas do hospital. Os dados enviados à CPI pelo governo não revelam quanto foi gasto na loja. Para os sub-relatores Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Índio da Costa (DEM-RJ) houve crime de improbidade administrativa, que pode ter se repetido em diversos órgãos da administração federal. Raimundo disse não ver problema nas compras.

- Eu não sabia que não podia usar o cartão na loja. Comprei lá sim, mas foram só besteirinhas. Não sei o montante, mas não foi o tanto de grana que falaram - afirmou o servidor.

Os oposicionistas querem usar o caso para pressionar o governo a abrir o que chamam de caixa-preta do uso dos cartões: as prestações de contas que deveriam revelar o destino do dinheiro sacado em espécie. Esses dados não aparecem no Portal da Transparência, ao contrário das compras a crédito em estabelecimentos comerciais.

- É um absurdo. O sujeito vai ao caixa, saca dinheiro do Tesouro e gasta como bem quer - afirmou Índio, animado.

Segundo documentos divulgados ontem, a Gilvana Elétrica lucrou ainda mais com a Fundação Universidade de Brasília, que administra o hospital. De 2003 a 2007, a elétrica recebeu R$77,4 mil em contratos.

Raimundo diz ter 5% das cotas da elétrica, sediada na Vila Planalto, bairro de classe média-baixa próximo à Praça dos Três Poderes. Ele nega ter se beneficiado e diz ter esquecido a senha do cartão.

- Sou um burocrata. Só fui à Gilvana para comprar parafuso, ferramenta, latinha de tinta. Não derramei dinheiro corporativo aqui - afirmou o servidor.

A Controladoria Geral da União (CGU) vai auditar as contas da Universidade de Brasília (UnB), a pedido do reitor interino Roberto Aguiar, que assumiu o cargo em abril, após a renúncia do reitor Timothy Mulholland. A auditoria especial será feita em conjunto com a UnB e vai analisar as relações da instituição com suas fundações de apoio, especialmente a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), que bancou a decoração luxuosa do apartamento funcional do então reitor Mulholland, no valor de R$470 mil, segundo o Ministério Público.

COLABOROU: Demétrio Weber