Título: Dilma depõe hoje, em meio a crise na Casa Civil
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/05/2008, O País, p. 11

Servidores destacados para fazer dossiê contra governo FH ameaçam denunciar secretária-executiva da ministra

BRASÍLIA. A ministra Dilma Rousseff depõe hoje na Comissão de Infra-Estrutura do Senado num momento em que enfrenta uma crise explosiva dentro da Casa Civil. Funcionários deslocados para montar o dossiê com gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique ameaçam denunciar a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, como a responsável pelo episódio, caso sejam indiciados pela Polícia Federal. O caso está mobilizando dirigentes petistas e já chegou ao gabinete do presidente Lula, que foi informado sobre a rebelião e pediu a emissários para apurar o tamanho da crise.

A rebelião cresceu depois que vazaram informações preliminares de que a sindicância interna restringiria a suspeita a dois funcionários escalados em fevereiro pelo secretário de Controle Interno, José Aparecido Nunes Pires, como revelou O GLOBO há um mês. Eles foram selecionados para montar um banco de dados com informações de gastos com contas do tipo B entre os anos 1998 e 2002.

No Planalto, o clima é de ameaça. Funcionários graduados da Casa Civil já relataram a dirigentes petistas que não estão dispostos a arriscar suas cabeças por causa de Erenice, assessora de confiança de Dilma. Nessas conversas, relataram que o levantamento encomendado pela secretária-executiva foi realizado de forma amadora. Esses funcionários alertaram ministros e assessores do presidente Lula sobre o papel de Erenice em toda a operação.

Segundo essa versão, no início de fevereiro, a pedido de Erenice, houve uma solicitação formal do secretário de Administração da Casa Civil, Norberto Temoteo de Queiroz, para que vários órgãos cedessem funcionários para um levantamento dos gastos da Presidência no período entre 1998 e 2002.

Também participaram dessa reunião o diretor de Orçamento e Finanças, Gilton Sabacik Maltez, e a atual diretora de Recursos Logísticos, Maria de La Soledade Bajo Castrillo, que até recentemente era chefe de gabinete da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Os três órgãos liberaram dois funcionários, cada, para trabalhar no levantamento dos dados.

Para blindar Dilma, cresce a avaliação na cúpula palaciana de que Erenice deve deixar o governo ao fim da investigação da Política Federal, que ganhará novo prazo da Justiça para concluir o inquérito. Nesse caso, a ministra poderia usar o argumento de que foi traída e de que nunca determinou a elaboração de um dossiê.

Assessores do Planalto temem as conseqüências da investigação da Polícia Federal. Se a PF concluir que o dossiê foi montado com o objetivo político e apontar um ou dois culpados pelo vazamento, o temor no governo é que, pressionados, esses funcionários provoquem desgaste ainda maior ao governo ao alegar em sua defesa que obedecia a uma ordem.

O governo faz grande esforço para isolar Dilma nesse episódio. Ontem à noite, depois que a ministra voltou da viagem com Lula ao Amazonas, ela se reuniu no Planalto com o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) e os líderes do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), do PT, Ideli Salvati (SC), e o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), para discutir o depoimento de hoje.