Título: Isabella: promotor denuncia casal e pede prisão
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 07/05/2008, O País, p. 13

Na denúncia, Cembranelli diz que pai sabia que a menina ainda estava viva ao jogá-la pela janela do sexto andar

SÃO PAULO. Alexandre Nardoni, de 29 anos, e sua mulher, Anna Carolina Jatobá, de 24, foram denunciados ontem pelo Ministério Público Estadual à Justiça e devem responder pelo homicídio de Isabella Nardoni, de 5, filha dele. O crime, de acordo com a denúncia do promotor Francisco José Taddei Cembranelli, foi triplamente qualificado, por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.

Na denúncia, o promotor diz que, ao lançar a menina do sexto andar, Alexandre sabia que ela ainda estava viva. Devido à crueldade do crime, o promotor pediu a prisão preventiva do casal. Ele diz que, devido à contundência das provas, a sociedade exige a prisão do casal para evitar a sensação de impunidade. Para Cembranelli, o casal cometeu um segundo delito, de fraude processual, ao tentar apagar provas do bárbaro crime.

Concordando com a polícia, que pediu a prisão dos dois, o promotor ressalta ¿o natural sentimento de iniqüidade provocado pela permanência dos denunciados em liberdade, considerando-se os inúmeros anônimos presos pelo simples furto de um vidro de xampu ou de um pote de margarina¿. No documento enviado ao juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri de Santana, que decidirá dentro de cinco dias se acata a denúncia e decreta a prisão do casal, Cembranelli argumenta que, mesmo sendo primários, Alexandre e Anna Carolina ¿possuem comportamento que se revela agressivo no próprio seio familiar, inclusive na frente dos filhos pequenos¿.

O promotor diz na denúncia que há relatos nos autos de que Anna Carolina ¿em meio a discussão familiar, quebrou janela de vidro com as mãos e que, em outra ocasião, jogou seu bebê sobre uma cama para poder agredir o marido¿. Ele fala também do pai de Isabella: ¿Já o denunciado Alexandre Nardoni, além de ter contra si o registro de ocorrência por delito de ameaça de morte praticado contra ex-mulher e ex-sogra, outro dia, irritado, ergueu o filho bebê no ar e o soltou rumo ao solo¿.

Se o juiz aceitar a denúncia, o casal passa a ser réu. Com a decretação da prisão preventiva, os dois poderão ficar na cadeia até o julgamento. Se condenado, Alexandre ainda poderá ter a pena agravada por ter cometido crime contra a própria filha, um descendente.

Para o promotor, o crime foi provocado por ciúmes. Isso porque uma intensa briga do casal antecedeu a morte de Isabella, e a discussão teria sido provocada pelo ciúme que a madrasta tinha de Ana Carolina Oliveira, mãe da menina.

¿ Houve uma situação de acalorada discussão entre o casal, e imediatamente após Isabella acabou agredida. E a discussão houve por ciúme ¿ contou, sem explicar como a discussão entre o casal se transformou em agressão contra a menina: ¿ O que temos provas é de que houve uma briga e em seguida agressões contra Isabella. A motivação não é imprescindível.

Para o promotor, Anna Carolina estrangulou enteada

De acordo com Cembranelli, Isabella Nardoni foi asfixiada por Anna Carolina e jogada do sexto andar do apartamento, no Residencial London, pelo próprio pai. As provas contra o casal, disse o promotor, estão em laudos periciais e versões de testemunhas.

Com base nos fatos apurados pela investigação policial, o promotor descreve a morte de Isabella: ¿No final da noite, após retornarem para o edifício da Rua Santa Leocádia, ocorreu forte discussão entre o casal, ocasião em que Isabella foi agredida com um instrumento contundente, fato que lhe ocasionou um pequeno ferimento na testa, provocando sangramento. Na seqüência, a denunciada Anna Carolina apertou o pescoço da vítima com as mãos, praticando uma esganadura que ocasionou asfixia mecânica. O denunciado Alexandre, a quem incumbia o dever legal de agir para socorrer a própria filha, omitiu-se¿.

Continua o relato do promotor: ¿Com a criança desfalecida, porém ainda com vida, os indiciados resolveram defenestrá-la. Para tanto, a tela de proteção da janela do quarto dos irmãos da ofendida foi cortada, após o que o indiciado Alexandre subiu nas camas ali existentes, introduziu Isabella pela abertura da rede e a soltou, precipitando sua queda de uma altura de aproximadamente 20 metros. A denunciada Anna Carolina concorreu decisivamente para a prática da conduta descrita no parágrafo acima, uma vez que a tudo presenciou, além de aderir e incentivar, prestando auxílio moral¿.

O advogado Ricardo Martins, um dos três que defendem Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, não quis comentar a denúncia.