Título: Ritmo reduzido na indústria
Autor: Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 07/05/2008, Economia, p. 21

Setor desacelera em março e registra taxa de 1,3%, a mais baixa desde dezembro de 2006

Este ano não será igual àquele que passou para a indústria nacional. Os números e os especialistas indicam que a produção em 2008 continuará crescendo, mas em ritmo menor do que em 2007, quando o setor registrou expansão de 6,0%. Em março, a produção industrial cresceu 1,3% na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é a mais baixa desde dezembro de 2006 (0,3%), bem abaixo dos resultados anteriores, como o de 9,7% de fevereiro e o de 8,5% em janeiro.

O menor ritmo também se confirma no índice de difusão, que mede quantos segmentos pesquisados acompanharam a alta: ele recuou para 44% em março, após chegar a 66% em fevereiro. Os setores que tiveram melhor resultado em março foram, mais uma vez, o de bens de capital (12,7%) e o de bens de consumo duráveis (13,6%), este último puxado pelo avanço de 13,7% da fabricação de automóveis.

- A economia teve crescimento muito forte em 2007, e agora houve uma acomodação natural - avalia o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloísio Campelo, lembrando que a última sondagem realizada pela FGV com mais de mil empresas do setor mostrou que a expectativa da indústria para os próximos meses continua boa, mas passou do otimismo elevado para o otimismo moderado em abril.

No primeiro trimestre, o setor acumula expansão de 6,3% na comparação com igual período do ano anterior, mas o resultado está abaixo dos 7,9% registrados nos últimos três meses de 2007, interrompendo uma trajetória ascendente que vinha desde o segundo trimestre de 2006. No acumulado em 12 meses, a taxa apresenta outro recuo, de 6,9% em fevereiro para 6,6% em março, rompendo um ciclo de alta que já durava um ano. A redução da velocidade do crescimento também é significativa na comparação do primeiro trimestre deste ano (0,4%) com o último trimestre de 2007 (1,9%).

Greve da Receita prejudicou produção

Já frente a fevereiro - quando houve retração de 0,5% da atividade do setor - a produção industrial cresceu 0,4%.

Para o coordenador de indústria do IBGE, Sílvio Sales, a desaceleração do crescimento da indústria em março não representa uma reversão do quadro de expansão. Segundo ele, o resultado foi influenciado por fatores isolados, como a queda da atividade de refino de petróleo e produção de álcool - que recuou 11% sobre fevereiro e 8,7% frente a março de 2007 -, devido à paralisação para manutenção da Refinaria de Paulínia (Replan), da Petrobras, em São Paulo. Pesaram também os dois dias úteis a menos em relação ao mesmo mês de 2007.

Além disso, o coordenador do IBGE disse que já é possível sentir os efeitos da greve dos fiscais da Receita Federal, iniciada em 18 de março. A paralisação afeta sobretudo setores cuja produção depende de itens importados, como o de eletrodomésticos de linha marrom (televisão, rádio e som) e o de equipamentos de informática - ambos registraram queda de 16,9% na comparação com o mesmo mês de 2007.

-- Os resultados que mostram a desaceleração estão muito concentrados em março. A conjuntura econômica como um todo, os indicadores de mercado interno, de emprego e de crédito, continuam muito vigorosos. A situação geral da economia sugere uma sustentação de ritmos de produção ainda elevados - disse Sales.

Especialistas estão menos otimistas. A LCA Consultores chamou a atenção para a expansão de apenas 0,4% na comparação com o último trimestre de 2007: "Com esse resultado da indústria, reiteramos a avaliação de que o ritmo marginal de crescimento do PIB diminuiu bastante no primeiro trimestre, apresentando taxa de crescimento próxima de 0%". A LCA projeta que a produção industrial volte a acelerar no segundo semestre, embora não chegue a recuperar o dinamismo de 2007.

- Os dados do IBGE indicam um ritmo de expansão menor da indústria, mas ainda factível com o crescimento de 4,5% que projetamos para o PIB este ano - afirma a economista Giovana Rocca, do Unibanco, que estima crescimento de 5% para a indústria em 2008.

Para Giovana e Sérgio Vale, economista da MB Associados, a elevação da taxa básica de juros para 11,75% ao ano, pelo Banco Central, em abril, só afetará o crescimento da indústria em 2009.