Título: O marido eu não posso resolver
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 07/05/2008, Economia, p. 22
Lula afirma que governo tenta criar condições para salvar Gradiente
MANAUS e RIO. No melhor estilo Santo Antônio casamenteiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as mulheres que quiserem se casar já podem, porque o país, em sua administração, está em melhores condições econômicas, e é possível ter acesso a casa, carro e computador. Lula só não garantiu ajudar a pretendente a encontrar um homem bonito e trabalhador. As declarações aconteceram na entrega de um reservatório de água em Manaus, no qual o governo investiu R$57 milhões, beneficiando 61 mil famílias.
Lula não ia discursar nesse evento, mas, ao saber que uma das moradoras do bairro havia 15 anos não tomava banho de chuveiro, pois não tinha água encanada em casa, não resistiu e improvisou. Culpou os governantes passados por não terem feito a obra que entregou ontem. E, ao observar que seu governo já construiu 50 mil casas populares - contra oito mil nos oito anos do governo anterior, pelas contas de Lula -, disse que as mulheres gostam de três coisas, embora tenha errado na contagem, pois citou quatro:
- A mulher gosta de três coisas: primeiro, quer ter uma casa; depois, quer se casar com um cara bonito e trabalhador; terceiro, quer ter um carro; e, quarto, quer ter um computador. Bem, o marido eu não posso resolver. Agora, a casa, o computador e o carro, na hora em que melhoram as condições econômicas do país, melhoram as de vocês, e todo mundo vai poder resolver esse problema.
Ao mesmo tempo em que demonstrou empenho em facilitar a vida de quem quer se casar, o presidente evitou dar uma declaração conclusiva sobre a Gradiente, que corre o risco de fechar. Enquanto cumprimentava os populares, o presidente ouviu pedidos para que ajudasse a salvar a fábrica de seu amigo Eugênio Staub, um dos primeiros empresários a lhe declarar apoio, em 2002:
- A Gradiente é uma empresa importante no pólo industrial, está quebrada. O governo federal tem tentado criar as condições para salvar a Gradiente, já conversamos com muita gente. Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para ajudar a Gradiente a voltar a produzir e gerar emprego - disse, observando que a solução não depende só do governo porque a empresa está em situação "delicada". - Mas nós vamos tentar fazer a nossa parte.
Ontem, as negociações com as ações da Gradiente foram suspensas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), por uma hora e 48 minutos. A Bolsa pediu esclarecimentos sobre um pedido de falência publicado pela imprensa, feito pela Max Express Transportes e Encomendas. A Gradiente disse que o valor da ação é de R$249.022,50 e que ainda não foi citada. Segundo a empresa, o valor cobrado é indevido, pois a autora do pedido de falência não cumpriu "obrigações contratuais do transporte de mercadorias". As ações, que são pouquíssimo negociadas, fecharam em alta de 25%, a R$3,50 o papel ON (com direito a voto).
Esta é a segunda vez no ano em que a negociação dos papéis da empresa é suspensa por esse motivo. A primeira foi em fevereiro. A Gradiente não divulgou os balanços completos de 2007. A fabricante disse que houve ajustes nas datas em função da disponibilidade de uma auditoria. (Chico de Gois, enviado especial, e Juliana Rangel)