Título: Depois de eleito, Lugo baixa o tom
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Fonte: O Globo, 07/05/2008, O Mundo, p. 31

Itamaraty diz que futuro governante do Paraguai abrandou discurso sobre Itaipu

BRASÍLIA. O diretor do Departamento da América do Sul 1 do Itamaraty, ministro João Luiz Pereira Pinto, disse ontem que o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, abrandou o discurso em relação ao Brasil depois do resultado da eleição. Para ele, Lugo - que defende a revisão do Tratado de Itaipu e aumento de tarifa da sobra de energia exportada para o Brasil - foi "mal assessorado e abraçou uma reivindicação que tecnicamente é complexa e realisticamente é inviável", ao querer associar o custo da energia hidrelétrica ao barril do petróleo.

- Se a gente prestar atenção às declarações do candidato Fernando Lugo e do presidente eleito Fernando Lugo, vai notar que tornou-se mais suave. Por exemplo, voltando ao caso de Itaipu. A principal (demanda) é o preço justo. "Renegociar se possível." Este "se possível" apareceu nas últimas semanas. Antes era "vai ter que" - disse Pereira Pinto, que participou de audiência pública no Congresso.

Amorim afirma que Brasil apresenta propostas concretas

Avaliando que várias das declarações e posições do novo governo "mostram profundo desconhecimento de Itaipu", o ministro acredita que Lugo meteu-se numa saia justa, pois abraçou um discurso eleitoral que não é factível. Ele atribuiu os equívocos ao fato de que "no Paraguai são todos especialistas em Itaipu", assim como os brasileiros são todos entendidos em futebol. Por exemplo, questionar o tratado em Haia não é uma possibilidade contratual.

Mas o ministro lembrou que, apesar do discurso antibrasileiro, o Brasil já está tocando programas conjuntos em temas delicados, como o de titulação de terras de brasileiros que vivem lá. O IBGE também fará, junto com o Paraguai, um levantamento para saber quantos brasileiros e descendentes moram no país vizinho. Fala-se entre 80 mil e 400 mil, e o Itamaraty faz uma estimativa de 130 mil.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também falou sobre o Paraguai ontem:

- Precisamos encontrar soluções que se apresentem justas e realistas. Se elas forem irrealistas, mesmo que sejam justas, não funcionam. Se forem realistas, mas forem injustas, acaba havendo também ressentimento e também não funcionam por outros motivos.

Ele afirmou que o Brasil tem apresentado propostas concretas ao Paraguai, como a realização de obras de infra-estrutura no país. Outra sugestão, acrescentou o ministro, seria estimular empresas brasileiras a investirem em território paraguaio, usando e remunerando o Paraguai pela energia utilizada.