Título: Sogra de Cid Gomes agora se recolhe
Autor: Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 11/05/2008, O País, p. 4

Pivô do escândalo da viagem ao exterior evita sair de casa e chora com freqüência

FORTALEZA. No dia em que completava 50 anos, em 9 de fevereiro passado, Pauline Carol Habib Moura desembarcava em Fortaleza após uma agradável viagem de dez dias por cinco países da Europa. Não poderia imaginar que o passeio na companhia do genro, o governador Cid Gomes (PSB), e da filha, Maria Célia Habib Gomes, se revelaria um presente de grego.

Pauline acabou pivô de um escândalo porque era a pessoa errada (a sogra e não um funcionário a serviço) no lugar errado, um jato fretado que custou R$388,5 mil aos cofres do estado.

Dias de exposição na mídia abalaram a estabilidade emocional de Pauline, paulista de Bauru casada com um cearense, o promotor de Justiça e criador de caprinos Francisco Leitão Moura. Há pelo menos três semanas, ela trocou a rotina de trabalho - à frente da Federação das Apaes e na assessoria da primeira-dama - por exílio voluntário. Não sai de casa nem para ir ao salão de beleza e manter em dia a pintura dos cabelos loiros.

Costumeiramente alto-astral, Pauline cedeu a muitos instantes de choro diante das notícias que denunciam a excursão pela Europa e revelaram convênios de mais de R$2,5 milhões entre a Federação das Apaes do Ceará, entidade que preside pela segunda vez, e o governo do genro. A insinuação de que teria se aproveitado da chance para visitar capitais européias sem pagar passagem (ela teria custeado outras despesas pessoais), incomoda a sogra do governador. Ela confidenciou a amigos que, se imaginasse a repercussão, teria comprado o bilhete e encontrado a filha na Europa.

Pauline, mãe de cinco filhos, e Maria Célia têm uma relação estreita. Essa proximidade também está presente no exercício da função de primeira-dama da filha. Antes do escândalo, a sofra ia com freqüência ao gabinete que a filha ocupa na Praça Luiza Távora. Foi o líder do governo, deputado Nelson Martins (PT), quem disse que ela, como voluntária, dava expediente diário no local e teria sala própria.

Descrita por algumas pessoas como "mãezona", Pauline parece continuar a exercer grande ascendência sobre Maria Célia, que tem 27 anos. Essa influência transcenderia as relações domésticas.

Logo no início do governo Cid Gomes, Pauline participou das reuniões em que era decidida a estrutura para atender ao gabinete da primeira-dama, vinculado à Secretaria do Trabalho e da Ação Social. O fato é que o papel da primeira-dama, associado à animação de ações voluntárias, foi ampliado, chegando a se sobrepor ao foco da secretaria, como fazer política para pessoas com deficiência e idosos.

Nos primeiros dias após a revelação da viagem, Pauline mal conseguia conversar sem chorar. Uma de suas reações às suspeitas de que estaria usando a proximidade familiar para tirar proveito é citar algumas de suas boas ações sociais e as vezes que pagou do bolso despesas para realizar eventos da entidade que preside.

Pauline é bacharel em Direito e graduada em Tecnologia da Construção Civil. Mãe de uma menina de 13 anos portadora da Síndrome de Down, dedica-se à causa das crianças com necessidades especiais. Também foi presidente da Apae de Juazeiro do Norte. Ano passado, ganhou o primeiro neto, Matheus, filho de Maria Célia e Cid. Ela parece estar se recuperando, mas vai conviver por um bom tempo com a lembrança da sogra que usou dinheiro público para viajar de jatinho à Europa.