Título: Lula intervém nas decisões técnicas do governo
Autor: Oliveira, Eliane; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/05/2008, O País, p. 12

Presidente tenta evitar prejuízos políticos, como fez no caso do aumento do preço da gasolina em pleno ano eleitoral

BRASÍLIA. Sempre em sintonia com a popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta, cada vez mais, influir politicamente em decisões técnicas do governo. Com o objetivo claro de evitar prejuízos políticos para si e para seu governo. O caso mais recente foi em relação ao aumento dos combustíveis. Outras decisões técnicas do governo continuarão contando com intervenção do Palácio do Planalto. Cada vez mais requisitado para bater o martelo em meio a tradicionais divergências entre a área econômica e outros ministérios, Lula terá de deliberar nos próximos dias, por exemplo, sobre o pacote de medidas que será lançado dentro de um mês para estimular a produção agrícola.

De um lado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está preocupado com a inflação e até concorda em expandir o crédito e a cobertura que o Tesouro dá nas operações de crédito dos produtores rurais. Na seara política, o prestígio do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, junto ao Palácio do Planalto será testado com o nível de benesses que serão concedidas, pois Mantega tem o papel de limitar os gastos ao máximo.

No episódio mais recente, do aumento dos combustíveis, Lula interferiu pessoalmente. Além do impacto inflacionário, avaliação feita no Planalto foi de que um reajuste da gasolina na bomba traria forte prejuízo político em ano eleitoral por ser uma medida impopular. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, conseguiu, depois de muitas negativas, um aumento de 10%, apesar de ter posto na mesa de negociação proposta de elevação dos preços ainda maior.

- É preciso deixar claro que não existe neutralidade técnica. O fundamento técnico é importante. Mas a última instância é política. E hoje, o bom resultado da economia é também resultado de opções políticas - justifica o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).