Título: Raposa: Planalto cobra explicação de Jobim
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/05/2008, O País, p. 18
Governo considerou grave a atitude de general que abriu quartel do Exército para ato contra a reserva indígena
BRASÍLIA. O Palácio do Planalto avaliou que foi um gesto de insubordinação explícita o fato de o general Eliezer Monteiro, do 7º Batalhão de Infantaria da Selva (RR), ter aberto o quartel para ato contra a Reserva Raposa Terra do Sol. Conforme o GLOBO revelou ontem, o militar permitiu a entrada na sede do Exército de fazendeiros e políticos que faziam manifestação contrária à demarcação da área indígena.
Auxiliares diretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstraram surpresa com a atitude do general e o fato de ele ter feito até mesmo um discurso a favor dos manifestantes. O Planalto vai querer uma explicação do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
A percepção é que o comandante do Exército fez um ato de hostilidade explícita ao governo, principalmente depois do episódio envolvendo outro integrante das Forças Armadas. Recentemente, o próprio Lula manifestou posição contrária ao do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que criou polêmica recentemente ao condenar a política indigenista brasileira.
Jobim não quis comentar gesto do general
A avaliação interna é que foi gravíssima a manifestação do general Monteiro, principalmente depois da decisão do Palácio do Planalto de aguardar uma posição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema. Procurado ontem, o ministro Nelson Jobim disse por meio de sua assessoria que não iria comentar a postura do general Monteiro.
Cauteloso, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, evitou comentar o gesto do general Monteiro. Mas fez questão de reafirmar ontem que a determinação do Palácio do Planalto continua inalterada em relação ao conflito em Roraima, por causa da demarcação da Raposa Serra do Sol.
- A ordem é aguardar uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre este impasse em raposa Serra do Sol - disse Múcio ao GLOBO.
O general Eliezer Monteiro é a principal autoridade militar do Exército em Roraima e está subordinado diretamente ao general Heleno. Por isso, o desconforto no Palácio do Planalto. Ele recebeu no quartel um grupo de 30 manifestantes que apresentou um documento com ataques à Polícia Federal, ao ministro da Justiça, Tarso Genro, e até mesmo ao presidente Lula.
Um interlocutor de Lula classificou ontem de inadequado o fato de Monteiro ter considerado "bastante apropriado" o fato de o governo de Roraima ter contestado no Supremo Tribunal Federal a demarcação e a operação da Polícia Federal. Por esta avaliação, o general quebrou uma ordem de hierarquia.
O núcleo do governo Lula considera que o general Eliezer Monteiro ultrapassou suas atribuições ao aconselhar os arrozeiros de Roraima a não aceitar que os índios da região proíbam a circulação de alimentos e combustíveis na área. Isso aconteceu depois que agentes da PF e da Força de Segurança Nacional chegaram ao interior da reserva, há um mês.