Título: Dias tensos no PMDB
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 10/05/2009, Política, p. 4

Lula entra em ação para tentar consolidar uma aliança entre o partido e o PT rumo à sucessão no Palácio do Planalto. Mas o estresse continua.

Michel Temer, cotado a vice: ¿Ainda é cedo para tratar da sucessão¿ O PMDB está com um pé em cada canoa. A doença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), levou a cúpula da legenda a dar um tempo em relação à aproximação com a candidata do PT a presidente da República e à retomada das conversas com os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, que disputam a vaga de candidato do PSDB. O ressurgimento da tese do terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre parlamentares da base, principalmente petistas, também serviu para fragilizar a candidatura de Dilma. Nosso compromisso é com o governo Lula, não é com a candidatura de Dilma, repetem em coro os caciques da legenda.

¿Ainda é cedo para tratar da sucessão¿, avalia o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), cotado para ser vice de Dilma, na chapa que está sendo articulada pelo presidente Lula. Esse distanciamento elevou a temperatura nas relações entre o PMDB e o governo. Na votação da medida provisória que parcelou em 240 vezes as dívidas das prefeituras com a Previdência, o líder do PT, Cândido Vaccarezza (SP), e o ex-ministro das Comunicações Eunício de Oliveira (PMDB-CE), protagonizaram uma bate-boca em plenário da Câmara. Vaccarezza cobrou o voto de Eunício a favor da posição do governo; Eunício rebateu, com o argumento de que o PMDB também era governo e não tinha satisfações a dar ao PT.

O episódio gerou um mal-estar que somente foi superado na quinta-feira, na votação da MP que rolou as dívidas de pessoas físicas e jurídicas com a Receita Federal em 180 meses e perdoou dívidas de até R$ 5 mil. Assim mesmo, depois de outro bate-boca, dessa vez entre o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), e o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, que se opunha ao relatório do deputado Tadeu Filippelli (PMDB-DF), por considerá-lo desorganizador da arrrecadação federal. Os dois peemedebistas retiraram-se da reunião e o confronto somente não resultou na derrubada da medida provisória porque o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), orientado pelo Palácio do Planalto, ficou solidário com os colegas.

Foi preciso Lula entrar em campo para acalmar os peemedebistas. Por essa razão, que convocou os líderes da base aliada para discutir o acordo com os ministros da área econômica e salvar a MP. Ao mesmo tempo, orientou os petistas a terem mais cuidado na relação com o PMDB, principalmente por causa das eleições regionais.

Senadores Preocupado com a situação, Lula advertiu o PT de que a prioridade da legenda deve ser conquistar o apoio do PMDB à candidatura de Dilma e eleger o maior número possível de senadores. Pela mesma razão, volta e meia Lula tem chamado ao Alvorada Michel Temer e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O presidente da República sabe que Sarney é um interlocutor privilegiado do governador Aécio Neves, juntamente com o líder da bancada do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e que tentam atraí-lo para o PMDB. E que Temer, o deputado Eliseu Padilha (RS) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) são antigos aliados do governador José Serra.

Hoje, os principais defensores da candidatura de Dilma dentro do PMDB são os ministros da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que vive às turras com o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e o da Defesa, Nelson Jobim. Geddel tem grande influência na bancada do PMDB na Câmara, porém se posiciona de acordo com seus interesses na Bahia.

Jobim está em rota de colisão com a cúpula do PMDB, pois resolveu afastar da Infraero um irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e a ex-mulher de Henrique Eduardo Alves. Lula apoiou o ministro da Defesa porque a decisão faz parte da estratégia de profissionalização dos setores ligados à pasta, fortalecendo as carreiras civis dos órgãos e empresas ligadas ao Ministério da Defesa. A cúpula da legenda recuou por causa do desgastante debate público com Jobim, mas agora fala que o ministro da Defesa é da cota do presidente Lula, não é um representante do PMDB no governo.