Título: Vitória com gosto de derrota para Hillary
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 11/05/2008, O Mundo, p. 46
Virgínia Ocidental deve votar em peso na senadora, mas números são insuficientes para salvar candidatura
CHARLESTON, Virgínia Ocidental. Ninguém duvida que Hillary Clinton vencerá a prévia eleitoral neste estado, na próxima terça-feira. Até mesmo seu adversário, Barack Obama, admitiu três dias atrás que ela será vitoriosa ¿ ¿e por uma boa margem¿.
No entanto, a inevitabilidade da nomeação de Obama como candidato do Partido Democrata tornou-se tão sólida nos últimos dias que já começou a retirar um pouco o fôlego e o ânimo dos simpatizantes de Hillary na Virgínia Ocidental.
¿ Desde o início planejei votar nela, pois tinha o sonho de ver uma mulher na Casa Branca e, além disso, achava que a plataforma de governo dela era muito boa. Mas agora está claro que ela não tem chances e, portanto, não penso mais em votar. Vou deixar para fazer isso em novembro, quando apoiarei Obama porque não é possível mais continuar com os republicanos no poder ¿ disse Nancy Cooper, 63 anos, professora aposentada.
Situação no estado é a mais favorável à senadora
A possibilidade de muitos eleitores seguirem o exemplo de Cooper pode reduzir a vantagem de Hillary em números concretos de votos, e inclusive o índice percentual de sua vitória. Até aqui ela vem obtendo uma vantagem de 34 pontos ¿ média das pesquisas locais ¿ com 26% dos eleitores ainda indecisos.
Uma vitória com margem menor prejudicaria o argumento de Hillary, em sua última e desesperada tentativa de convencer os superdelegados do partido de que ela seria capaz de obter votação popular tão ou mais expressiva do que Obama. Vinte e oito delegados estão em jogo na prévia eleitoral: 18 serão designados proporcionalmente; os dez restantes são superdelegados.
Em nenhum dos seis estados onde serão realizadas as últimas prévias eleitorais, até o próximo dia 3 de junho, a situação é tão mais favorável à senadora do que na Virgínia Ocidental. Trata-se do estado perfeito para reforçar em números o derradeiro apelo de Hillary, graças ao perfil do seu eleitorado. Sua população tem a terceira mais alta porcentagem do país de cidadãos da terceira idade, grupo que mais apoio tem dado à senadora em todo o país.
A renda média local é US$12.500 menor que a média nacional ¿ que é de US$58 mil. E aqui é alto o índice (89%) de trabalhadores com nível educacional baixo ou mediano, não universitário, que pendem mais para Hillary do que para Obama.
Ela esteve duas vezes na região nos últimos seis dias. Seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, visitou nada menos do que dez cidades do interior nos últimos três dias. Sua campanha está contando, ainda, com a ajuda do grupo ¿Veteranos por Hillary¿, que lançou uma maratona motorizada de 15 dias por todo o estado pedindo votos a ela.
Segundo o comitê de sua campanha em Charleston, foi justamente a promessa feita por ela em seus discursos aqui, de que pretendia retirar as tropas americanas do Iraque e oferecer aos soldados uma assistência de saúde digna do sacrifício que eles têm feito pelo país a que mais aplausos arrancou da platéia.
Kennedy apóia Obama em Virgínia Ocidental
O governador Joe Manchin, democrata, também a apóia. Ele é um dos dez superdelegados de Virgínia Ocidental, e um dos três que já declararam seu voto para ela. Outros dois estão com Obama. Os cinco restantes deverão se decidir em breve.
Obama ainda não veio à Virginia Ocidental, mas deverá aparecer nos próximos dias. O mais alto representante de sua campanha aqui, até agora, foi Max Kennedy, filho de Robert F. Kennedy. Ele participou de vários eventos, lembrando que seu pai fora o responsável pela vitoriosa campanha presidencial de seu tio, John F. Kennedy, nesse estado em 1960. Ontem, Obama ganhou o apoio de mais dois superdelegados.