Título: Absolvição depõe contra a imagem do país
Autor: Gois, Chico de ; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 09/05/2008, O País, p. 14

Presidente se diz indignado com decisão do júri que inocentou fazendeiro acusado de mandar matar Dorothy Stang

Chico de Gois, Luiza Damé e Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mostrou indignado ontem com a absolvição, por júri popular, do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de comandar o assassinato da missionária Dorothy Stang, em fevereiro de 2005. Para o presidente, a decisão depõe contra a imagem do Brasil no exterior, uma vez que passa a sensação de impunidade. Bida havia sido condenado, em maio de 2007, a 30 anos de prisão, mas foi beneficiado por um novo julgamento. O promotor Edson Cardoso de Souza anunciou que recorrerá da decisão.

- Eu acho que depõe um pouco contra a imagem do Brasil no exterior. Eu acho que faz com que uma parte da sociedade comece a ter dúvida sobre o julgamento, mas, de qualquer forma, é uma decisão, é um fórum legitimamente reconhecido, e temos que esperar que os advogados façam recursos para que a gente possa então saber se o mandante vai ser punido ou não - afirmou o presidente. - Como brasileiro, como cidadão comum, eu obviamente estou indignado com o resultado, mas como presidente da República não dou palpite na decisão de uma instância do Judiciário.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que há um clamor na sociedade para que se puna não apenas o executor do assassinato, mas também o mandante.

- Foi uma decisão do tribunal do júri e o tribunal do júri é responsável. O clamor da sociedade é para que se punam mandantes e executores do crime - disse ela.

Em visita a Brasília, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, classificou a absolvição de absurda e afirmou que a decisão reforça a sensação de impunidade no campo.

- É realmente lamentável. Mais uma vez, vão ficar impunes os mandantes, aqueles que podem pagar quem aperta o gatilho. Isso é um absurdo - protestou.