Título: Armas contra o terror da mulher
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 11/05/2008, Ciência, p. 48

Combinação de novas técnicas com hábitos saudáveis promete eliminar a celulite

Estima-se que no mínimo 85% das mulheres têm celulite. E aquelas com cintura fina, quadris largos e formas arredondadas são ainda mais vulneráveis à inflamação que deixa a pele com aspecto de casca de laranja. Isso porque elas sofrem ação hormonal, principalmente do estradiol, que favorece à retenção líquida e o aumento de células de gordura. Quando isto é associado a fatores genéticos e vasculares, à má alimentação e à falta de exercícios, a situação piora. Mais que um problema estético, a celulite é uma doença, e de tratamento tão difícil quanto o da obesidade. Porém, com mudanças de estilo de vida e aplicação de técnicas modernas, inclusive cirurgia, é possível se livrar da maior parte do problema.

Os furinhos se formam quando gorduras, toxinas e líquidos ficam presos no tecido fibroso que liga os músculos à pele. Além dos glúteos, eles aparecem na barriga e nas coxas. Apesar de não existirem estudos sobre efeitos da alimentação na prevenção e no tratamento, a dieta rica em vitaminas, minerais, fibras e líquidos, associada a exercícios físico, melhora muito o aspecto. Sem estas medidas, de nada adiantará se lambuzar de cremes, se submeter a dolorosas sessões de drenagem linfática e tratamentos que custam quase o preço de uma plástica.

A atividade física reduz a flacidez, tão determinante na celulite quanto o excesso de peso. Isto foi confirmado por cirurgiões americanos. Eles analisaram mulheres que emagreceram e observaram que as mais magras que perderam pouco peso, mas tinham pele flácida, apresentavam mais celulite. A conclusão, publicada na revista ¿Plastic and Reconstructive Surgery¿, é que há piora quando a pele fica menos firme depois de dieta.

Cremes têm pouco efeito contra a inflamação

Assim como os exercícios, cremes e géis são coadjuvantes. Só funcionam associados a outros procedimentos. Alguns contêm substâncias que quebram gordura, estimulam o fluxo sangüíneo e a drenagem linfática. Mas é preciso saber escolher. Por exemplo, cremes com cafeína, cuja estrutura é lipofílica, penetram mais facilmente. Já os hidrofílicos têm maior dificuldade. Antes de comprá-los, vale a pena consultar um dermatologista.

¿ Eles têm capacidade limitada de alcançar a camada subcutânea e alterar a estrutura do tecido gorduroso ¿ diz a dermatologista Doris Hexsel, presidente do II Simpósio Internacional de Celulite, nos dias 30 e 31 de maio no Hotel Sheraton Leblon.

O que faz mais efeito são tratamentos combinados, como, por exemplo, uso de radiofreqüência, aplicação de luz infravermelha e vacuoterapia (aparelho de sucção). A radiofreqüência aquece as camadas mais profundas ao mesmo tempo que refrigera a superfície.

¿ Isto causa contração do colágeno e aumenta a firmeza dos tecidos ¿ diz Doris.

Tratamento requer várias sessões e manutenção

A luz infravermelha também aquece camadas intermediárias da pele e estimula a formação de colágeno, também com resfriamento para proteger a epiderme. A superfície é mantida intacta, não sofre danos.

¿ Essa associação de radiofreqüência, infravermelho e vacuoterapia parece aumentar a eficácia. Não se usa radiofreqüência em pacientes com marcapassos. E a técnica não serve em casos de muita flacidez ¿ diz Doris.

Para a dermatologista Paula Bellotti, o tratamento da celulite é multidisciplinar, o que pode exigir consultas a outros especialistas, como endocrinologista, nutricionista e profissional de educação física. Ela concorda que o uso de radiofreqüência, luz infravermelha e sucção é hoje uma das melhores opções contra a doença. Já existe um aparelho que combina tudo isso num só.

¿ O equipamento aumenta o metabolismo das células com celulite e elas diminuem de tamanho. Geralmente são necessárias 12 sessões, duas vezes por semana. A manutenção depende de cada caso ¿ explica Paula.

Não há efeitos adversos importantes com a radiofreqüência. A principal reação é um discreto avermelhamento da pele. O dermatologista Márcio Serra, vice-presidente do II Simpósio Internacional de Celulite, alerta contra os tratamentos milagrosos.

¿ Não se pode prometer a cura. Dependendo da história clínica da pacientes do grau de celulite, há procedimentos mais eficazes do que outros.