Título: Repasses em cadeia
Autor: Rosa, Bruno; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 06/05/2008, Economia, p. 19

SOB PRESSÃO

Alta do petróleo, que já afeta setores de plástico, fertilizantes e aviação, chega em junho ao consumidor

A disparada do preço do petróleo no mercado internacional este ano já afeta os preços de plásticos, querosene e fertilizantes no Brasil. Para o consumidor, o efeito, indireto e diluído no preço final do produto, começará a ser sentido em junho, dizem empresas e especialistas. No atacado, porém, as altas já são vistas com preocupação pelas indústrias. No setor de plástico, o aumento dos insumos chega a 5% este ano. E as embalagens, que usam esse insumo, já subiram 1,31% entre janeiro e abril, diz a Fundação Getulio Vargas (FGV).

O querosene de aviação - que afeta o preço das passagens aéreas - subiu 11,32% no período, diz a FGV. As companhias devem esperar o início da temporada de férias, a partir de junho, para repassar esse custo ao preço das passagens. A informação é do presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), José Márcio Mollo. De janeiro a maio, o preço do produto já foi reajustado em quase 20% pela Petrobras, superando a variação acumulada em todo o ano passado (12,6%). Segundo o Snea, o combustível responde por 30% a 40% dos custos totais das companhias aéreas.

- Certamente haverá repasses para os preços. Eles (os reajustes) vão depender dos custos de cada empresa e da concorrência. Não será um aumento de preços linear - diz Mollo.

A Gol informou que tem adotado medidas para minimizar o impacto do combustível. Mas admitiu que o repasse para as tarifas aéreas será inevitável, caso a escalada no preço do querosene continue. Como os preços do setor são livres, as empresas não necessitam de autorização para o reajuste da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Dólar ajuda a segurar preços

Depois de altas de 33% no ano passado, a indústria do plástico registrou aumento de custo entre 4% e 5% nas resinas de janeiro a abril. Para a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), o polietileno e o poliestireno - matérias-primas utilizadas na fabricação de sacolas plásticas e embalagens de diversos produtos, como iogurtes - já encareceram 4% este ano. Segundo o presidente da associação Merheg Cachum, o polipropileno - usado na fabricação de pára-choque de veículos - subiu 5%. Por isso, continua, o consumidor pode começar a sentir o reflexo a partir do início do segundo semestre. As empresas de consumo sentiram alta de 1,31% este ano nos materiais plásticos, revela a FGV.

- Não conseguimos segurar sozinhos os aumentos dos insumos vendidos pelas petroquímicas. Até agora, apesar do aumento do petróleo no mercado internacional, a queda do dólar em relação ao real segurou parte da alta dos preços. Porém, se o dólar subir, o reajuste vai acontecer rápido. Os repasses às empresas acontecem a cada três meses - diz Cachum.

O setor petroquímico também se queixa da cotação da nafta, uma das principais matérias-primas para a produção de resinas plásticas, que subiu 3,7% no mercado internacional nos últimos quatro meses. Segundo o vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Nelson Pereira dos Reis, a Petrobras vem repassando todos os reajustes da nafta para a indústria química, ao contrário do que faz com os combustíveis. A relação entre o preço da nafta e o do petróleo só aumenta. Em 2002, a nafta custava 7,8 vezes o preço do petróleo; hoje, custa 8,8 vezes.

O petróleo também afeta preços de fertilizantes, o que deve gerar impacto nos alimentos. Segundo a Agroconsult, consultoria especializada em agronegócios, o preço do adubo tem subido entre 5% e 8%. Para a consultoria, o forte aumento na demanda também impulsiona as cotações do produto, já que o Brasil consumirá 25,5 milhões de toneladas de fertilizantes, volume 5,2% maior do que o de 2007.