Título: Lembrando os anos 70
Autor: Rangel, Juliana; Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 06/05/2008, Economia, p. 21

Há poucos dias, elogios a Médici e Geisel

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embalado pela concessão de grau de investimento ao Brasil pela agência de classificação de riscos Standard & Poor"s, não conteve a alegria e recorreu a uma frase cheia de simbolismo histórico para expressá-la: "Ninguém segura este país".

Surgida em forma de slogan no auge do regime militar, quando a seleção brasileira de futebol conquistou definitivamente a taça Jules Rimet, na Copa do México, com um time liderado por Pelé, Tostão e Gérson, a frase tomou os meios de comunicação e as ruas do país, enchendo de orgulho boa parte da população.

Mas houve também quem visse aquela euforia como uma tentativa do regime militar de se legitimar no poder, num período em que vigorava o AI-5 e as liberdades mais básicas eram cerceadas.

Foi nessa época que a dupla Dom e Ravel, por exemplo, lançou a música "Brasil eu te amo", na qual decretava, bem ao estilo do momento: "ninguém segura a juventude do Brasil". Outros hits patrióticos bradavam que "este é um país que vai pra frente" e por aí seguia o ufanismo "Patropi".

Coincidência ou não, o tom saudosista da frase de Lula - um ex-sindicalista que sentiu a mão pesada do Estado durante o regime militar - ocorre poucos dias depois de ele ter voltado a elogiar os ex-presidentes do regime militar Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel.