Título: Protestos na Argentina impedem passagem de caminhões brasileiros
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 09/05/2008, Economia, p. 34
Por causa da greve dos produtores, mercado de grãos não registrou transações
Janaína Figueiredo*
BUENOS AIRES. Os produtores agropecuários argentinos, que anteontem anunciaram nova greve por oito dias, bloquearam a Rodovia do Mercosul, prejudicando caminhões brasileiros, uruguaios e paraguaios. Os manifestantes impediram a passagem de carregamentos provenientes de outros países do bloco, atrasando a passagem dos mesmos. A situação piorou a partir das 20h, quando, segundo o dirigente da Federação Agrária Argentina (FAA), Alfredo De Angeli, um dos principais líderes do setor, foi proibida a circulação de caminhões nacionais e internacionais.
Do lado argentino, a Rodovia do Mercosul passa pelas províncias de Corrientes, Entre Rios e Buenos Aires. Os manifestantes também protestaram em outras estradas, sobretudo em Santa Fe, Córdoba, além de Entre Rios e Buenos Aires. O governo da presidente Cristina Kirchner acionou 1.200 agentes de forças de segurança nacionais, mas até a noite de ontem não haviam sido registrados incidentes violentos. Durante um ato na província de Jujuy, Cristina se referiu aos produtores rurais como "minorias egoístas":
- Meu coração encolhe quando vejo milhares de pobres dizerem que também têm obrigações, eles são a contracara das minorias egoístas e pouco solidárias que nunca compreenderam o país.
Já os líderes rurais insistiram em defender os protestos, desencadeados pela decisão do governo de não anular um decreto aprovado em março, que modificou o sistema que taxa as exportações de grãos, afetando as vendas de soja e girassol.
- Os produtores estão zangados e preocupados - disse o presidente das Confederações Rurais, Mario Llambías.
A crise entre o governo Kirchner e os produtores rurais deverá ter impacto negativo na produção de vários setores. De acordo com representantes das empresas que fabricam maquinaria agrícola, por exemplo, a greve poderia provocar uma queda de 30% nas vendas.
Por causa dos protestos, o mercado de grãos não registrou transações ontem.
- Não temos uma só ordem de venda, os telefones não tocam, e as conversas são fruto das notícias publicadas, e não do mercado - explicou à Reuters um operador de Rosario, a principal praça de soja do país.
Ao longo das três semanas de protestos em março, a bolsa fechou sem negociações na maior parte das sessões.
- Os corretores se renderam à paralisação - disse outro operador.
(*) Com agências internacionais