Título: Banco Mundial: crise de alimentos vai até 2015
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 09/05/2008, Economia, p. 35

Lula quer plano de estímulo à produção em 30 dias e convoca reunião com ministros. Idéia é reduzir impacto da inflação

Eliane Oliveira

BRASÍLIA, CIDADE DO MÉXICO e RIO. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou na noite de quarta-feira, em visita ao México, que a crise dos alimentos vai continuar até 2015, ainda que a oferta de grãos seja ampliada no próximo ano. Preocupado com a alta dos preços, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o plano para incrementar a safra 2008/09 no Brasil esteja pronto em 30 dias. Para isso, convocou uma reunião com os ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e da Fazenda, Guido Mantega, com o objetivo de discutir alternativas de incentivo à produção. O encontro será em dez dias e visa a garantir o abastecimento e minimizar o impacto dos reajustes na inflação.

- Mesmo que (com o aumento da oferta de grãos) os preços sejam reduzidos um pouco entre 2009 e 2010, sentimos que eles vão se manter altos até 2015 - disse Zoellick, que considerou ser urgente que os países alterem suas políticas agrícolas e busquem uma nova geração de biocombustíveis feitos a partir da celulose, e não de grãos.

É o que o Brasil planeja fazer. O pacote de estímulos à produção nacional que será conhecido em junho tem como pontos fortes a elevação dos preços mínimos de garantia, mais recursos para o custeio e reforço do seguro rural, medidas semelhantes às adotadas para permitir o aumento de 25% da produção de trigo, a partir de julho. O governo liberou R$1,5 bilhão para o custeio da safra, reajustou o preço mínimo do produto de R$400 para R$480 e instituiu, pela primeira vez, seguro agrícola subsidiado.

- Nós estamos sob impacto da demanda mundial, mas de qualquer forma o Brasil é o país que mais está contribuindo para diminuir esse impacto, porque é o país que mais cresce na produção e exportação de alimentos - afirmou Stephanes, ao anunciar a previsão revisada da safra de grãos 2007/08, de 142 milhões de toneladas.

O ministro admitiu que os reflexos das altas dos preços nos alimentos na inflação "preocupam o governo" e chamou de "sensíveis" o arroz, o feijão e o milho. Ele defendeu a liberação da importação de milho transgênico para o Nordeste.

A nova estimativa de safra divulgada ontem pelo IBGE representa um crescimento de 7,2% em relação à safra anterior, um recorde no país, e avanço de 1,5% em relação à previsão feita em março, de 140,5 milhões de toneladas. A mudança nas projeções foi influenciada pelas previsões da safra de trigo e da segunda safra de milho, que deverão crescer 12,4% e 15,7%. A área plantada deverá atingir cerca de 48,3 milhões de hectares em 2008, 3,2% mais que na safra anterior.

O peso dos alimentos no bolso do consumidor já se faz sentir em maio. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) acelerou no começo do mês. A alta foi de 0,83%, contra avanço de 0,72% no mês de abril. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), 70% da taxa se devem ao aumento dos alimentos.

COLABOROU Danielle Nogueira, com agências internacionais

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