Título: Hora de arrumar a casa
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Fonte: Correio Braziliense, 10/05/2009, Política, p. 8

Governador espera recuperar as finanças do estado e defende mais investimentos do PAC na Paraíba

Há dois meses no cargo pela terceira vez, o governador da Paraíba, José Maranhão (PMDB), terá pouquíssimo tempo para mostrar resultados e buscar a reeleição. Um ano e meio, não mais do que isso. E com muitos problemas, dos administrativos aos políticos. Isso ele revela nesta entrevista exclusiva ao Correio, dos Diarios Associados, que edita o Diario de Pernambuco e o Diário de Natal, no Rio Grande do Norte. José Maranhão recebeu a reportagem no lançamento dos novos projetos dos jornais O Norte e Diário da Borborema, também dos Associados, na Paraíba. A seguir, ele até admite apoiar uma candidatura do prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), a governador, em 2010. Mas espera mesmo tentar o quarto mandato, tendo Coutinho e o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital (PMDB), na chapa, como candidatos ao Senado. Até lá, no entanto, os problemas serão enormes. As receitas do estado despencaram com a redução dos repasses federais. A saúde está abandonada, segundo Maranhão, que não mede as palavras na hora de criticar o antecessor, Cássio Cunha Lima (PSDB). ¿A execução das obras do PAC é uma vergonha, 2%, o pior índice do país¿, lamenta, mais uma vez atacando o tucano. A seguir, os principais trechos da entrevista:

``O povo não vota apenas num nome que se impôs pela sua forma de trabalhar e agir. O povo vota no resultado de governo´´

Quando é que o senhor anuncia oficialmente que será candidato à reeleição? Política é a arte dos possíveis. Por isso, entendo que o meu projeto político hoje é administrar bem o meu estado. Até porque a reeleição é um processo plebiscitário. O povo não vota apenas num nome que se impôs pela sua forma de trabalhar e agir. O povo vota no resultado de governo.

Mas o senhor deseja disputar a reeleição? Não. Eu não diria que é um desejo da reeleição. É claro que eu seria hipócrita se dissesse o contrário. Como resultado dessa administração, num momento certo, que não é agora, eu desejaria ser julgado pelos paraibanos. Acho que o instituto da reeleição criou uma questão de honra para o administrador. De tal sorte que o administrador só não pleiteia a reeleição quando ele está mal na administração. E já houve vários casos de administradores que pleitearam a administração e não conseguiram.

E vai dar tempo para conseguir um bom resultado administrativo? Acho que sim, estamos trabalhando para isso. Quando você fala sobre conseguir um bom resultado em um ano e 10 meses, de repente, coloca uma questão da seguinte base: conseguir um bom resultado que corresponda a quatro anos em apenas um ano e 10 meses. Eu não encaro a questão desse jeito. Não se pode multiplicar o tempo em termos de resultados práticos. A própria forma como a administração é conduzida pode fazer com que todos compreendam que esse governo, mesmo com um ano e 10 meses, está correspondendo à expectativa da sociedade. Por exemplo, nós já estabelecemos aqui um plano prioritário e até emergencial em relação à administração do estado. Nós nos situamos em cima daquilo que apuramos em pesquisa que é urgente e inadiável para a sociedade. O governo anterior aplicou apenas a metade do que determina a Emenda Constitucional 29, que são os 12% (das receitas do estado em gastos determinados pela Constituição Federal com a saúde). E aplicou apenas 6% na saúde. Em consequência, nos seis anos de governo, foi se abrindo uma cratera imensa onde a saúde foi afundada. Nós já restabelecemos o índice constitucional de 12%. É possível.

O governo está preparado para enfrentar a crise econômica? A Paraíba perdeu, de janeiro a abril, R$ 130 milhões. Isso corresponde a um terço aproximadamente da receita mensal do estado. É um valor muito alto. O presidente Lula, consciente desse processo, instituiu um programa de financiamento aos estados. Eu já recebi a comunicação. O diretor financeiro do BNDES ofereceu um empréstimo de R$ 190 milhões como compensação. Isso não corresponde ao que esperávamos. Até porque essa queda tem muito a ver com as medidas que o governo federal tomou para salvamento da indústria automobilística. Como os elementos formados do FPE e FPM (fundos de participação dos estados e municípios) são o IPI e o Imposto de Renda, então, qualquer concessão que o governo federal faz com redução desses tributos influi diretamente nas cotas do FPE.

Quanto o senhor vai pedir ao BNDES? Não estou pensando em pedir. Se fosse o caso, eu iria pedir muito mais do que R$ 191 milhões. Isso aí foi uma apuração do próprio governo e a parte da Paraíba é R$ 191 milhões. Eu posso pedir menos, mas eu não posso pedir mais. Precisamos de muito mais.

A folha de pagamento de pessoal do estado será negociada com instituições bancarias para compensar as perdas que o estado sofreu? Ela foi vendida pelo governo anterior por um preço que não corresponde à realidade nacional. Foi um estado que não soube vender sua folha.

Foi subfaturado? Não estou dizendo isso. Até porque eu só falo quando tenho provas. Agora, causa estranheza a todo mundo que uma conta que vale de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões tenha sido vendida por um terço desse valor. Por isso, eu resolvi fazer a seguinte operação eu só vendo essas contas a bancos oficiais, Caixa Econômica, Banco do Brasil ou Banco do Nordeste, se interessar. Não sei se interessa. O critério vai ser do melhor preço e das melhores condições.

Existem várias entidades reivindicando a construção do Centro de Convenções de João Pessoa para promover eventos importantes. Como é que está esse projeto? A obra vai sair? O Centro de Convenções não foi nada além da mídia no governo anterior. Em apenas 60 dias de governo, já conseguimos tirar as pendências que existiam no Tribunal de Contas da União e vamos anunciar o início de construção da obra em no máximo 30 dias. Vamos começar imediatamente. O Centro de Convenções é um equipamento fundamental para a Paraíba.

O senhor é aliado do presidente Lula. Há uma negociação já antecipada para tentar fechar com o PMDB nos estados, para abrir caminho e facilitar o apoio à ministra Dilma Rousseff na sucessão presidencial. Como o senhor está ajudando nisso? Isso ainda não chegou numa discussão mais ampla dentro do PMDB. Mas o partido, na minha visão, é o aliado do presidente e do PT nacionalmente. Até porque essa aliança já existe no governo. Eu sempre achei que quem determina as políticas nacionais são as políticas regionais. O caráter nacional dos partidos no Brasil é uma ficção de direito. Na realidade, quem impõe o caminho a ser seguido pelo ente nacional são os estados federados. A política é feita aqui. E aqui dentro do cenário político da Paraíba nós não temos uma posição mais adequada, mais viável com a realidade do que a aliança com o PT e com o presidente Lula. E foi assim que votamos em praticamente todas as eleições do presidente Lula.

O PMDB precisa de mais espaço no governo federal? Eu acho até que o PMDB não deveria se preocupar muito com mais espaço no governo. Deveria se preocupar em obter espaço na chapa. A legenda deveria evoluir para a cabeça de chapa. Pelo tamanho, importância e capilaridade. O PMDB é o único partido nacional que tem presença em todos os municípios brasileiros. Não seria difícil o partido ascender à condição de ter a cabeça de chapa e conceder a vice ao PT. Mas eu acho que o PMDB poderia colocar isso na mesa das negociações.

Mas quais seriam os nomes do PMDB a presidente? No cenário nacional, em termos de quadros, o PMDB é um partido muito rico. Nós temos muitos nomes importantes dentro da nossa legenda. Não vou citar nomes aqui, mas temos. Não resta dúvida de que a ministra Dilma Rousseff é uma grande administradora e está revelando isso. É uma pessoa de postura muita ética e equilibrada. Mas em termos de popularidade o PMDB tem quadros em condições de formular com o PT uma chapa com grandes chances de vitória.

O PMDB conseguiria se unir em torno de um nome? Acho que aí não haveria dificuldades. Um nome peemedebista é muito mais do que um nome de qualquer outro partido.

O senhor concorda com uma mudança constitucional para garantir um terceiro mandato do presidente Lula? Isso não está em pauta. O presidente Lula já disse com toda clareza que não pretende isso. Se ele fosse candidato, todas as questões deixariam de existir. Porque é indiscutível o prestígio, a força e a tendência do povo brasileiro de votar no presidente. O presidente Lula, que era a pessoa que poderia falar em última instância sobre isso, já disse reiteradamente que não pretende disputar um terceiro mandato.

A oposição lançou alguns nomes para as eleições ao governo em 2010, como os senadores Cícero Lucena (PSDB) e Efraim Morais (DEM). Como o senhor avalia isso? Os dois já disseram que são candidatos. É um direito democrático que eles têm, de conduzir ou tentar antecipar a luta. Mas eu acho que na Paraíba ninguém está interessado em candidato agora. O que a Paraíba quer mesmo é um governo de resultados. O que a Paraíba quer mesmo é a solução de seus problemas.

O senador Cícero Lucena disse que o atual governo do estado está inerte... É, o governo está inerte porque não resolveu ainda seis anos de mazelas acumuladas. É por isso que ele está inerte.

O que é que falta para o senhor e o prefeito Ricardo Coutinho (de João Pessoa, do PSB) falarem a mesma língua? O que existe, no meu entender, entre eu e o prefeito são estilos diferentes de ser e de fazer as coisas. E também um sentido de independência muito grande entre nós. Nós temos conversado e vamos continuar conversando. O povo de João Pessoa e da Paraíba querem um entendimento entre nós. A Paraíba precisa desse entendimento, até com os adversários, imagine com aliados.

Em 2010, o senhor e o prefeito estarão juntos? Eu acho que em 2010 nós estaremos do mesmo lado. Não tenha a menor dúvida disso. Não é apenas porque eu seja partidário. Eu vejo reais condições para isso. Isso foi uma construção difícil.

Estarão juntos com o senhor candidato à reeleição? Acho que nós vamos nos entender. Acho que o prefeito Ricardo Coutinho pode ser candidato. A eleição não é só para governador, é também para senador. Posso sair a governador com Ricardo Coutinho e Veneziano Vital (PMDB, prefeito de Campina Grande) ao Senado. Assim como eu posso ser candidato e Ricardo ser o candidato a governador. O que é que proíbe fazer isso? Tudo é uma questão de entendimento, de construção.

O presidente Lula vem dando um tratamento à altura da Paraíba pelo fato de o PMDB ser aliado ou o estado está fora de alguns projetos importantes? O senhor chegou a reclamar que o estado estava com uma parcela pequena do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Isso é uma questão temporal. Eu assumi há 60 dias. Eu não era governador do estado. Não tinha condição funcional para encaminhar os projetos da Paraíba junto ao governo federal. No que diz respeito ao PAC, os projetos foram mal-encaminhados. Por isso, o estado foi mal-contemplado. Isso eu já disse ao presidente Lula, publicamente, na reunião da Sudene, em Montes Claros (MG), e reservadamente. O presidente já se comprometeu a corrigir algumas distorções. Por exemplo, a Transnordestina, ela fez uma volta e não entrou no território da Paraíba. Eu fiz essa denúncia publicamente à ministra Dilma Rousseff. Eu disse a ela que a Paraíba estava triste por essa omissão. A Paraíba exige uma maior participação nos projetos do PAC.