Título: Bolsa e dólar sobem, com pressão de bancos
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/05/2008, Economia, p. 39

Tesouro capta US$525 milhões no mercado internacional. Poupança fica negativa em R$1,848 bi em abril

Felipe Frisch

RIO e BRASÍLIA. Depois de um dia em que os investidores decidiram vender ações para embolsar os lucros, ontem a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a subir. O principal índice do mercado de ações, o Ibovespa, subiu 1,02%, para 69.722 pontos. Já o dólar teve sua quarta alta consecutiva, de 0,36%, para R$1,694. O risco-país se manteve praticamente estável, em queda de um ponto, para 205 pontos centesimais.

Em parte, a alta do dólar tem sido forçada pela "posição comprada" dos bancos, diz o diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme. Ou seja, os bancos e investidores estrangeiros, para se proteger de uma eventual alta da moeda americana, têm contratos de compra de dólar na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

Com isso, forçam para que o dólar suba até os níveis antes do grau de investimento recebido pelo Brasil da agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) na quarta-feira passada. Na véspera, o dólar era cotado a R$1,706.

Destaque de alta na Bovespa foram as ações de siderurgia: as da CSN subiram 3,73% e as da Gerdau, 3,22%. Segundo Ronaldo Patah, diretor de renda variável da Unibanco Asset Management, o setor foi influenciado pela informação divulgada na véspera pela CSN de que o segundo trimestre será o melhor da história da empresa.

O dia ontem foi mais tranqüilo, segundo o economista-chefe da Ágora, Álvaro Bandeira, devido a declarações da varejista americana Wal-Mart de que as vendas estavam melhorando. Além disso, destacou, os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram na última semana e o estoque do atacado de março caiu 0,1% contra expectativa de alta de 0,3%, mostrando melhora da economia.

Os bancos centrais da Coréia do Sul, da Inglaterra e da Europa mantiveram as taxas de juros, contra a expectativa de elevação devido a temores de inflação. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,41% e o eletrônico Nasdaq, 0,52%. No Brasil, saíram dados positivos da indústria e da safra agrícola, destacou Bandeira.

O Tesouro Nacional concluiu ontem a captação de US$525 milhões no mercado internacional. Deste total, US$500 milhões foram obtidos nos mercados europeu e americano na quarta-feira, enquanto os outros US$25 milhões vieram do mercado asiático, em extensão da operação, encerrada ontem. A emissão do título Global 2017 (vencimento em 2017) teve a menor taxa de retorno para o investidor desde o lançamento desse título em novembro de 2006. Quando o papel foi lançado, a taxa era de 6,249% ao ano. Desta vez, ela foi de 5,299% ao ano.

O saldo da caderneta de poupança ficou negativo em abril em R$1,848 bilhão, depois de 19 meses consecutivos de captação líquida, informou ontem o Banco Central (BC). O último resultado negativo havia sido registrado em agosto de 2006, quando o déficit ficou em R$280 milhões. Para os economistas, a retração deveu-se à elevação da taxa de juros mês passado, que motiva a busca por aplicações que rendam mais, como os fundos de investimentos.

COLABORARAM: Juliana Rangel, Martha Beck e Henrique Gomes Batista