Título: Assessor de Álvaro Dias depõe
Autor: Camarotti, Gerson ; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 13/05/2008, O País, p. 3

Pressionado, governo desiste de tentar adiar depoimento de Aparecido

Adriana Vasconcelos e Bernardo de Melo Franco

BRASÍLIA. Na tentativa de recuperar para a oposição a dianteira nas investigações da CPI do Cartão Corporativo, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) anunciou ontem que seu assessor André Eduardo da Silva Fernandes - que recebeu por e-mail, do Palácio do Planalto, o dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - se pôs à disposição para falar amanhã à comissão. Ontem, o assessor prestou depoimento de três horas na Polícia Federal em Brasília. O delegado responsável pela investigação do dossiê, Sérgio Menezes, não quis dar informações sobre a conversa. De acordo com assessores do senador tucano, Fernandes disse ao chefe que o depoimento foi "tranqüilo e sem surpresas".

A disposição de Fernandes de falar logo na CPI levou o Palácio do Planalto a rever sua posição inicial de tentar adiar, para depois da conclusão do inquérito da Polícia Federal, o depoimento de José Aparecido Nunes Pires, secretário de Controle Interno da Casa Civil da Presidência, identificado como responsável pelo vazamento. A orientação do governo agora é para que a base aliada aprove hoje na CPI as convocações de Fernandes e Aparecido.

- O melhor realmente seria aguardar o inquérito da PF, mas o governo vai pagar para ver, pois não tem nada a temer. Nossa orientação na CPI será a favor da aprovação de André Fernandes e de José Aparecido - confirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Apesar da segurança demonstrada ontem por Jucá, de que Aparecido não terá como comprometer a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a oposição considera praticamente impossível que ela saia ilesa. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), por exemplo, já antecipou que vai insistir na aprovação de uma nova convocação da ministra.

Líder do PSDB quer convocar a ministra Dilma

Como o governo tem maioria folgada na CPI, Virgílio vai tentar aprovar requerimento de convocação da ministra na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

- Quem mais sabe da execução do dossiê e como ele foi elaborado é a ministra Dilma. Não adianta tentarem deixar o Aparecido como bode expiatório, para que ele leve a culpa sozinho. Já sabemos que as culpadas são a ministra Dilma e a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra - afirmou o líder tucano.

Jucá antecipou, porém, que o governo não concorda com uma nova convocação de Dilma:

- Qualquer tentativa de convocação de Dilma, antes de ouvir o Aparecido, tem nitidamente motivação eleitoral. Ela já veio aqui na semana passada e deu um show em cima da oposição - disse ele.

Em conversa pelo telefone, Álvaro Dias negociou ontem a ida de Fernandes à CPI. Segundo o senador, seu assessor está disposto a esclarecer qualquer dúvida da comissão. Dias informou que só na última segunda-feira, depois de receber uma autorização do próprio assessor, é que ele alterou seu depoimento e deu detalhes à Polícia Federal de como teria tido acesso ao dossiê.

- No meu depoimento inicial, eu havia preservado meu assessor. Mas, depois que André me autorizou, liguei para o delegado da Polícia Federal e contei que fiquei sabendo do dossiê através dele, que havia recebido um e-mail de um amigo pessoal, no caso, Aparecido - contou Dias.

Além de apreciar os requerimentos de convocação de Fernandes e Aparecido, que poderão ser ouvidos ainda esta semana, a CPI do Cartão Corporativo deverá ouvir hoje o depoimento do reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ulysses Fagundes Neto, suspeito de ter feito gastos irregulares com cartão corporativo no exterior, incluindo uma viagem à Disney World, no estado americano da Flórida.