Título: Quero ir para a CPI
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 10/05/2008, O País, p. 3

A CRISE DO DOSSIÊ

Assessor da Casa Civil acusado de vazamento ameaça contar quem mandou fazer dossiê

Osecretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, apontado como o responsável pelo vazamento do dossiê com gastos secretos do governo Fernando Henrique, mandou avisar ontem a assessores do Palácio do Planalto e dirigentes petistas que está disposto a prestar depoimento na CPI do Cartão Corporativo. Antes de viajar para Goiânia para tentar esfriar a cabeça, ele fez um desabafo em tom de ameaça de que não será o bode expiatório do escândalo. Acrescentou que está disposto a revelar que a ordem de comando para elaboração do dossiê com objetivo político partiu da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, principal auxiliar da ministra Dilma Rousseff.

- Tudo o que eu quero é ir para a CPI - disse Aparecido a amigos.

Dilma sabia do resultado ao depor

A ministra Dilma Rousseff prestou depoimento no Senado, esta semana, com a informação confirmada de que Aparecido tinha sido o autor do vazamento. Na comissão, ela disse que era uma vítima do processo, mas negou conhecer a autoria do vazamento. Informalmente, a ministra recebeu no domingo passado o resultado da perícia do ITI no computador de Aparecido. Oficialmente, a perícia foi repassada na última segunda-feira para a comissão de sindicância interna que apurava o vazamento.

Para integrantes da cúpula do PT, Aparecido negou com veemência que tenha sido o autor do vazamento das informações sigilosas. Segundo ele, os funcionários de sua secretaria cedidos para fazer o dossiê estranharam o comportamento dos demais servidores da Casa Civil que faziam o mesmo trabalho. Por esse relato, esses servidores reagiam com gargalhadas e comemoração diante de cada nova descoberta sobre gastos curiosos ou exóticos do ex-presidente Fernando Henrique e de sua mulher, dona Ruth.

Já naquela ocasião, Aparecido chegou a alertar caciques petistas sobre o que classificou de comportamento "amador" dos funcionários da Casa Civil. Desde então, ele alega que passou a sofrer forte perseguição política de Erenice Guerra.

Ontem, a própria Dilma falou por telefone com petistas e assessores do Planalto que têm contato com Aparecido. Nessas conversas, a ministra tentou passar segurança e afirmou que o secretário de Controle Interno não teria munição contra ela. Mesmo assim, Dilma foi alertada de que Aparecido está disposto a chegar muito perto dela, ao atacar Erenice.

A Casa Civil trabalha para não criminalizar o vazamento dos dados da gestão Fernando Henrique, tendo por base nova interpretação do Gabinete de Segurança Institucional sobre a classificação dos gastos.

No núcleo do governo, há uma preocupação para o potencial de estrago de futuras declarações de Aparecido. Ontem, ele não foi trabalhar. Também não pediu licença do cargo. A ordem no Planalto é aguardar a conclusão da PF para depois exonerar Aparecido.

- O governo vai aguardar o resultado da investigação da Polícia Federal. Só com a conclusão definitiva é que vamos tomar providências - avisou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Já no comando da Casa Civil, a avaliação é de que Aparecido resolveu vazar o documento para um assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), André Eduardo Fernandes da Silva, por divergência política e disputa pessoal.