Título: Lula diz que vai pagar diárias a ministros e acabar com sacanagens
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 13/05/2008, O País, p. 4
Presidente afirma que objetivo é cortar gastos e controlar notas fiscais
Flávio Freire
SÃO BERNARDO DO CAMPO. O presidente Lula disse ontem que pretende acabar com o que chamou de "sacanagem das notas fiscais" no governo federal. Durante ato em comemoração aos 30 anos da greve dos trabalhadores da Scania, de São Bernardo do Campo, que ele liderou em 1978, Lula disse que pretende instituir diárias aos funcionários do governo, como fez no sindicato que presidiu na década de 70. Ao lembrar de um ex-dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos que o obrigou a instituir as diárias na entidade que ele presidia para acabar com as notas fiscais, disse:
- Vejo aqui o companheiro Mariano Palma Vilalta, que era diretor do Conselho Fiscal do sindicato e que brigava tanto para que as notas do sindicato estivessem em dia que me obrigou a instituir as diárias do sindicato, coisa que eu quero fazer no governo federal para acabar com a sacanagem (das notas) - disse ele, aplaudido por cerca de 500 pessoas no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
"A greve foi a primeira grande lição que tive"
O presidente não especificou se há um esquema de notas frias em seu governo, apenas ressaltou que preferia instituir limites de diárias para evitar gastos desnecessários. Mas segundo a assessoria de imprensa do presidente, Lula deve instituir diárias no governo para ministros tão logo se encerre a CPI do Cartão Corporativo.
Num discurso emotivo em que lembrou os 30 anos da greve dos funcionários da Scania, a primeira depois do AI-5, Lula disse que a paralisação foi "a mais importante lição de vida" que recebeu, porque ele firmou um acordo com a direção da montadora que acabou não cumprido pela empresa, o que o desgastou junto aos trabalhadores, que chegaram a dizer que ele era "traidor" da categoria.
- A greve da Scania foi a primeira grande lição que tive na vida. A lição de fazer acordo que não foi comprido. A lição de ser chamado de traidor, a lição de perder a confiança daqueles que depositaram em alguns momentos os seus destinos nas nossas mãos - disse ele.
Segundo Lula, foi graças à condução do sindicato de São Bernardo que ele chegou à maturidade política.
- Devo minha formação ética a essa maturidade que a categoria dos metalúrgicos de São Bernardo me deu - disse Lula.
Em seu discurso, o presidente lembrou seu tempo de sindicalista. Disse que, naquela época, se sentia "quase como um camundongo" diante de "tantos companheiros "heróicos".
O presidente também lembrou das conseqüências das greves de 79 e 80. Segundo ele, na primeira, os metalúrgicos saíram vitoriosos com a conquista de benefícios como FGTS e aumento salarial. Já na paralisação do ano seguinte, o presidente lembrou que a categoria saiu com as mãos vazias, mas fortalecida politicamente:
- A partir daí firmamos a convicção de criar a CUT e o Partidos dos Trabalhadores.