Título: CPI e PF pretendem ouvir Aparecido, da Casa Civil
Autor: Jungblut, Cristiane; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 10/05/2008, O País, p. 5
A CRISE DO DOSSIÊ: Assessor de Álvaro Dias também é alvo
Oposição quer chamar Dilma para falar sobre dossiê
BRASÍLIA. Dois dias depois de negar no Senado a existência de um dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, voltou ontem à mira da oposição. A confirmação de que o vazamento dos dados teve a participação do secretário de Controle Interno do órgão, José Aparecido Nunes Pires, ressuscitou a CPI do Cartão Corporativo e levou parlamentares de PSDB e DEM a voltarem suas baterias contra a ministra.
Para a oposição - que pretende convocar Dilma a depor novamente no Senado para falar só sobre o dossiê -, a ligação de Aparecido com o ex-ministro José Dirceu não anula a responsabilidade de Dilma na fabricação do documento.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), acusou Dilma de ter mentido na Comissão de Infra-Estrutura e anunciou que pedirá sua convocação para depor na Comissão de Constituição e Justiça. Desta vez, sem espaço para falar nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
- A ministra faltou com a verdade. Disse que não havia dossiê, e o dossiê está aí. O dossiê foi composto na Casa Civil e de lá vazou - afirmou o tucano, que voltou a acusar a secretária-executiva do órgão, Erenice Guerra, de comandar a montagem do material: - Não acho que a doutora Erenice tenha feito fogo amigo contra a ministra Dilma. O dossiê foi feito pela Dilma. Não espero coisa boa do José Dirceu, mas a Erenice não é ligada a ele.
"Não se pode jogar tudo nas costas de José Dirceu"
O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que a hipótese de fogo amigo no PT não pode ser usada para isentar Dilma.
- Não se pode jogar tudo nas costas do ex-ministro José Dirceu - protestou.
Diante da polêmica, a presidente da CPI do Cartão, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), decidiu convocar uma sessão extraordinária na próxima terça-feira para tentar aprovar a convocação de Aparecido. Ele é alvo de dois requerimentos desde o início da CPI, mas os pedidos não foram votados:
- O depoimento dele será fundamental. Antes, a ministra Dilma dizia que não havia dossiê e que as planilhas eram apócrifas. Agora surgiu a pessoa que pode esclarecer os fatos.
A maioria governista já admite apoiar o requerimento para convocar Aparecido, mas quer chamar também o economista André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Segundo a sindicância da Casa Civil, ele recebeu os dados de Aparecido por e-mail. O objetivo da base é levá-lo à CPI para desgastar o tucano. Ontem, o relator da comissão, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), disse que Dias teria montado o dossiê a partir de dados brutos recebidos da Casa Civil:
- O assessor do senador divulgou tudo o que recebeu ou apenas uma parte? Será que ele manipulou as informações?
Aparecido e André Eduardo serão intimados nos próximos dias pela Polícia Federal. O delegado Sérgio Menezes, que está à frente das investigações, decidiu pedir à 12ª Vara da Justiça Federal autorização para anexar aos autos do inquérito o resultado da sindicância da Casa Civil, onde estariam as provas materiais do vazamento dos dados sobre Fernando Henrique.
As conclusões da Comissão de Sindicância da Casa Civil coincidem com boa parte da apuração conduzida pela PF. Mas Sérgio Menezes aguarda a conclusão da perícia da própria PF para se certificar das suspeitas que pesam contra Aparecido, André Eduardo e Álvaro Dias. Ontem, a PF informou que a perícia sobre o primeiro lote de computadores recolhidos na Casa Civil não está pronto. Por enquanto, as suspeitas da PF estão amparadas em depoimentos e informações preliminares obtidas na primeira fase do inquérito.
A PF considerou importante o resultado da sindicância da Casa Civil e deverá usar parte dos documentos da investigação interna para preparar o interrogatório de Aparecido e André Eduardo. Álvaro Dias já prestou depoimento. Pela apuração da sindicância, Aparecido teria passado por email o dossiê ao amigo André Eduardo. Álvaro Dias já admitiu publicamente que recebeu o dossiê de André Eduardo e que o documento tinha como origem o computador de Aparecido. Álvaro Dias teria vazado o dossiê para a imprensa.