Título: Anotação detalha divisão de propina para a quadrilha
Autor: Galhardo, Ricardo; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 10/05/2008, O País, p. 10

Planilha foi apreendida pela PF em empresa de consultoria

SÃO PAULO. Anotações numa planilha encontrada pela Polícia Federal na sede da empresa de consultoria Progus, durante a Operação Santa Teresa, mostram com detalhes como a quadrilha que cobrava propinas para intermediar empréstimos no BNDES teria dividido o dinheiro de um repasse de R$124 milhões do banco à prefeitura de Praia Grande. O dono da Progus é o empresário Marcos Mantovani, apontado como um dos integrantes da quadrilha. A empresa, segundo a PF, emitia notas frias para o grupo.

Segundo o documento, escrito à mão e datado do dia 21 de janeiro, o grupo teria recebido R$2,6 milhões, exatamente 2% dos R$130 milhões previstos (no final foram aprovados R$124 milhões) para Praia Grande. Do total, R$1,3 milhão seria dividido da seguinte forma: 50% para a Progus e 50% para "Paulinho", "Tosto" e "Gaspar". Segundo a PF, "Tosto" é o advogado Ricardo Tosto, "Gaspar" é o vice-presidente estadual do PDT José Gaspar e "Paulinho" é possivelmente o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).

Segundo a planilha, o R$1,3 milhão restante seria dividido entre Maneco, "JP", "Jamil" e "Boris". De acordo com a PF, "JP" é o lobista João Pedro de Moura, ex-assessor de Paulinho e funcionário da Força Sindical, e "Jamil" é Jamil Issa Filho, chefe de gabinete da prefeitura de Praia Grande.

As anotações obtidas pela PF dão maior detalhamento das informações obtidas pela PF em uma interceptação telefônica feita em 23 de janeiro, dois dias depois da data da planilha. Na conversa telefônica, o empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco, e Bóris Timoner - supostamente integrantes do esquema - falam da divisão da propina de Praia Grande.

Pagamento a Paulinho seria de R$216 mil

A planilha, porém, desmente a hipótese de que o deputado teria recebido R$325 mil, como inicialmente suspeitou a Polícia Federal. O relatório da PF anterior à localização da planilha falava na divisão dos R$2,6 milhões em duas partes e afirmava que uma delas seria dividida entre quatro pessoas, entre as quais "PA" (possivelmente o deputado, segundo a PF), que ficaria com 25% disso (R$325 mil).

De acordo com a planilha, mais detalhada, a pessoa identificada por "Paulinho" teria recebido um terço de R$650 mil: R$216 mil, portanto.

Em entrevista ontem, o deputado voltou a negar que tenha recebido propina de qualquer valor para intermediar financiamentos no BNDES e disse que não conhece Mantovani. Segundo o deputado, Paulinho é um apelido comum e pode se referir a qualquer um, menos a ele.

- Nunca pedi empréstimo - afirmou. (Ricardo Galhardo e Adauri Antunes Barbosa)