Título: Governador de Goiás e senador são denunciados
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 10/05/2008, O País, p. 13

Procurador acusa o tucano Marconi Perillo e Alcides Rodrigues Filho, do PP, de usar caixa 2 em campanha

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) e o governador de Goiás, Alcides Rodrigues Filho (PP), por formação de quadrilha e peculato (apropriação indevida de recursos públicos). Os dois políticos são acusados de uso da máquina, um esquema de caixa dois e notas fiscais frias. As irregularidades teriam ocorrido durante a campanha de 2006, como noticiou ontem o site da revista "Época". A denúncia foi distribuída ao ministro Ricardo Lewandowsky, que será o relator no plenário do STF.

No material entregue ao Supremo, há transcrição de conversas telefônicas nas quais Waldete Faleiros, contadora do diretório regional do PSDB, negocia com o proprietário de uma locadora de veículos a emissão de notas fiscais, cujo serviço não teria sido prestado. O Ministério Público Federal começou a investigar Marconi e Alcides durante a campanha. De acordo com o procurador Hélio Telho, o MPF fez um amplo trabalho de acompanhamento das campanhas. Na prestação de contas dos então candidatos ao Senado e ao governo, carros que foram catalogados pelos procuradores, por exemplo, não apareceram, o que deu base para a denúncia de caixa dois.

Gravação dá a entender que prática era comum

Numa das interceptações telefônicas, Waldete Faleiros conversa com o presidente da Multicooper e lhe pede a emissão de nota fiscal no valor de R$15 mil. O imposto seria pago pelo PSDB. A conversa dá a entender que essa prática era comum.

- Eu só quero saber assim... como é que eu faço... se você deposita o dinheiro e devolve... - pergunta Waldete.

- Faz igual aquele dia... você traz o cheque, e ela te devolve em dinheiro. Te devolve em dinheiro para não ter problema - responde Genaro Herculano, presidente da Multicooper.

Em outra gravação, Lúcio Fiúza, administrador financeiro da campanha de Perillo, diz que precisaria consultar o "chefe" a respeito de um documento.

- Vamos pensar mais um pouco... Continua pensando por enquanto... Até eu pegar uma luz com o chefe - Lúcio Fiúza.

O procurador também acusa Perillo e Alcides de utilizarem servidores e bens públicos em suas campanhas. De acordo com Antonio Fernando de Souza, policiais militares teriam trabalhado para os dois na eleição e um avião do governo do estado teria sido utilizado pelos candidatos. Além disso, o procurador acusa os dois de terem atuado para esconder provas.

O advogado do senador, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, criticou a atuação da Procuradoria da República.

- O grave da denúncia é que foi feita com base apenas em escutas telefônicas. As tais provas são de uma fragilidade inacreditável. O prejuízo político e pessoal já está feito. Mas o STF não vai receber esta denúncia.

Kakay disse que tem comprovantes dos pagamentos pelo uso de aeronaves. Sobre os policiais que teriam trabalhado na campanha, ele afirmou que estavam de licença.