Título: Alimentos sobem e inflação anual passa de 5%
Autor: Schreiber, Mariana; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 10/05/2008, Economia, p. 39

Em abril, índice oficial saltou para 0,55%, com alta de 7% no pão. Economistas esperam maior elevação de juros

A inflação dos alimentos deu novo salto em abril e fez o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerar para 0,55%, após ter registrado 0,48% em março, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o acumulado em 12 meses passou de 4,73% para 5,04%, afastando-se ainda mais do centro da meta da inflação fixada pelo Banco Central, de 4,5%. O índice em 12 meses não ficava acima de 5% desde março de 2006 (5,32%). Em 2008, o IPCA acumula 2,08%, acima do 1,51% em igual período de 2007.

- O perfil da inflação continua o mesmo desde 2007, e os alimentos não mostram sinais de redução: eles vêm subindo de forma insistente e sistemática. Dificilmente, uma taxa muito alta recua de forma abrupta no mês seguinte - destacou a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina dos Santos, indicando que a taxa acumulada deve aumentar mais em maio.

Os preços do grupo alimentação subiram 1,29% em abril, acima do 0,89% de março, e foram responsáveis por cerca da metade do IPCA do mês. O principal impacto veio da inflação de 7,33% do pão francês. Segundo Eulina, com a restrição da exportação de trigo da Argentina para o Brasil, outros derivados do produto também encareceram: farinha (6,80%), macarrão (2,34%) e pão de forma (1,12%).

Índice para famílias de baixa renda teve maior aceleração

A alta do pão francês é sentida por consumidores como a diarista Lory Vieira. Segundo ela, para o café da manhã ficar mais barato, a saída é buscar promoções. Mãe de quatro filhos, ela garantiu ontem o pão pelo preço de R$4,80 o quilo.

- A comparação de valores é a única saída para fazer o salário render mais, já que os preços não param de subir - diz.

Já os produtos não-alimentícios variaram 0,34%, um pouco abaixo do resultado anterior (0,36%), refletindo as quedas do álcool (-0,65%), da energia elétrica (-0,49%) e da gasolina (-0,14 %). Por outro lado, o consumidor pagou mais por vestuário (1,53%), artigos de limpeza (1,41%) e remédios (1,18%).

Os alimentos têm peso maior no consumo de famílias de baixa renda (29,46%) que no da população em geral (22,04%). Com isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para os mais pobres, avançou 0,64%, e acumula alta 5,90% em 12 meses.

A coordenadora do IBGE considera que, entre os alimentos, a alta dos preços é generalizada. Para Eulina, essa inflação não é conseqüência do aquecimento da demanda interna, mas decorre da valorização das cotações no mercado internacional.

O economista da LCA Consultores Raphael Castro também atribui a inflação dos itens alimentares a fatores externos. Segundo ele, o aumento do rendimento não produz elevações tão abruptas dos alimentos. Quando a população está com mais dinheiro, afirma, ela amplia a compra de bens duráveis.

Diante dos novos resultados da inflação, o economista da Paraty Investimentos Marco Antônio Franklin acredita que a alta dos preços não está concentrada apenas em alimentos:

- Nossa projeção é que o IPCA feche o ano em 5,15%, mas talvez seja muito otimismo.

Economista já prevê alta de até 2,5 pontos na Taxa Selic

Os números da inflação de abril trouxeram quase uma certeza para os analistas: o aperto monetário será mais intenso e mais longo do que se esperava quando os juros básicos subiram pela última vez, em abril. O IPCA, apesar de ter vindo dentro do esperado, trouxe preocupações adicionais com o espalhamento da alta de preços.

- Os núcleos da inflação (que retiram as maiores oscilações) vieram mais altos. Na média, subiram de 0,39% em março para 0,47% em abril. Além disso, subiram vestuário, serviços, artigos de residência. Estamos corrigindo nossa estimativa de alta dos juros de dois pontos percentuais para algo entre 2,25 e 2,5 pontos. Está se consolidando um cenário pior da inflação - disse Elson Teles, economista-chefe da Corretora Concórdia.

Mesma opinião tem Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset Management, para quem a Taxa Selic pode subir de 11,75% para 14,25% no ano:

- Elevamos a projeção do IPCA de maio de 0,42% para 0,50%.

COLABOROU Gustavo Fernandes, do "Extra"