Título: Um dos filhos do arrozeiro também está preso
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 08/05/2008, O País, p. 5
Entre os funcionários de Quartiero detidos pela PF há um índio
BOA VISTA. Entre os sete presos pela PF em Roraima está um filho de Paulo César Quartiero, o administrador rural Renato de Almeida Quartiero, que atuou ao lado do pai na resistência à operação Upatakon 3. Mês passado, ele se feriu nas mãos após um explosivo estourar próximo a ele. Outro dos presos é um índio, o cacique Nilo Carlos Borgeia Coelho. Ele trabalha há dez anos para Quartiero na fazenda Depósito, onde é operador de máquinas. Os outros cinco presos também são funcionários do fazendeiro.
O delegado disse que Quartiero foi transferido também por questões de segurança e falta de local para ficar detido. Ele passou a noite de terça para quarta-feira nas dependências da superintendência da PF em Boa Vista, onde não há lugar para presos. Quartiero não tem direito a prisão especial, segundo Fonseca. A PF informou que ele foi transferido porque, por ser prefeito e ter direito a foro privilegiado, a instância para seus advogados recorrerem seria o Tribunal Regional Federal de Brasília.
Grupo protesta contra prisão de Quartiero em frente à PF
Em Boa Vista, houve reação à prisão de Quartiero. Ontem, a cidade amanheceu com pichações: "Soltem Paulo César". No final da tarde, um grupo de cerca de 50 pessoas, maioria funcionários de arrozeiros, protestou em frente à PF. O movimento era liderado pelo pastor José Dilson, da Igreja Evangélica Bereana. Ele atacou a PF, que chamou de "Gestapo do governo Lula", e gritava ao microfone:
- Vamos lutar com todas nossas armas. Todas mesmo. Quartiero está sendo injustiçado porque foi um dos poucos que resolveu se rebelar contra essa ditadura. A nossa polícia veste é o uniforme verde-oliva - disse o pastor, numa referência aos militares do Exército, instituição contrária à demarcação de Raposa.
O líder dos arrozeiros, em seu depoimento, recusou-se a responder a qualquer pergunta e repetia, em todos questionamentos, que só responderia em juízo. Negou-se a confirmar até se preside a Associação dos Arrozeiros de Roraima. Seu filho, também orientado por advogados, negou-se a responder. Nos autos, Renato é apontado como co-autor da fabricação e do armazenamento dos explosivos.