Título: Corregedor: Tem muito mais coisa
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 08/05/2008, O País, p. 11

EMPRÉSTIMOS SOB SUSPEITA

Há fatos suficientes para processar Paulinho por quebra de decoro, diz

BRASÍLIA. O corregedor da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE), encaminhou ontem ofício ao deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) pedindo que ele apresente defesa preliminar diante das denúncias de envolvimento com a quadrilha que fraudava empréstimos do BNDES. Para Inocêncio, dificilmente o pedetista escapará de investigação no Conselho de Ética. Ele considerou insuficientes as explicações dadas por Paulinho no plenário, anteontem, e disse que muitas coisas ainda precisam ser esclarecidas e detalhadas sobre as denúncias.

- Tenho por princípio investigar tudo, não engavetar ou arquivar nada. O que ele falou no plenário é pouco. Se o Ministério Público pediu ao procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, que prossiga com as investigações é porque tem muito mais coisa. Pode ter sido feita uma investigação em segredo que não veio à tona - disse Inocêncio, ressaltando que quer apuração rápida e rigorosa.

O corregedor considerou as denúncias muito graves, principalmente por causa das ligações de Paulinho com pessoas já presas por suposto envolvimento no esquema. A situação dele pode se complicar com a divulgação de gravações da Polícia Federal que mostram Paulinho discutindo com o advogado Ricardo Tosto, denunciado na Operação Santa Teresa, estratégias para desqualificar a investigação. Tosto é membro do Conselho de Administração do BNDES e se afastou do órgão quando as denúncias vieram à tona. Nas gravações, Paulinho teria dito, em uma conversa interceptada pela PF no dia 27 de abril, que iria usar de suas influências para que a Câmara dos Deputados intimasse o superintendente da Polícia Federal e o ministro da Justiça para darem explicações.

- Isso foi uma infelicidade. Ele não poderia nunca usar o seu mandato para tentar pressionar ou intimidar a Polícia Federal ou o ministro da Justiça. Esse fato contribui muito para o início de um processo por quebra de decoro e perda do mandato. O deputado tem que dar o exemplo, e a instituição é muito maior do que a soma de todos nós - disse Inocêncio.

Depois de ouvir Paulinho, o corregedor deverá formar uma comissão de sindicância com cinco deputados escolhidos fora do PDT e do Bloquinho - que reúne as bancadas do PDT, PSB e PCdoB na Câmara - para aprofundar as investigações. Inocêncio anunciou que quer inquirir o prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (PSDB), sobre suposto pagamento de propina de R$325 mil a Paulinho para ajudar na liberação de um empréstimo no BNDES; o advogado Ricardo Tosto e o ex-conselheiro e assessor do deputado, João Pedro de Moura.

Paulinho disse ontem que as denúncias não afetarão sua pré-candidatura à prefeitura de São Paulo. Depois da reunião da executiva do PDT, na noite de terça-feira, em que teve a solidariedade maciça dos presentes, ele disse que passou a madrugada jogando baralho. Ontem se reuniu com líderes do bloquinho para discutir sua candidatura:

- Não atinge (a candidatura). O trabalhador sabe o que está por trás disso tudo.