Título: Tropa de choque governista para proteger Dilma
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/05/2008, O País, p. 13

Senador tenta oferecer até colar de ouro à ministra

BRASÍLIA. A escolta que acompanhou a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, até a Comissão de Infra-Estrutura do Senado deu a medida exata do tamanho da tropa de choque destacada pelo governo para socorrê-la, diante de qualquer ameaça de golpe da oposição. À frente, estava o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), que recebeu a ministra em seu gabinete, fez um apelo prévio aos integrantes da comissão para que mantivessem o clima de tranqüilidade e assistiu à maior parte do depoimento. A ida da ministra ao Senado foi cercada do mesmo clima dos grandes acontecimentos na Casa, esvaziando os trabalhos em outras comissões e no plenário.

Na chegada, cercada pelos três líderes do governo no Legislativo - senador Romero Jucá (PMDB-RR), senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e deputado Henrique Fontana (PT-RS) - e pelos senadores José Sarney (PMDB-AP), Renan Calheiros (PMDB-AL), Ideli Salvatti (PT-SC) e Aloizio Mercadante (PT-SP), além de Garibaldi, Dilma não precisou dos seguranças do Senado para não ser abordada por jornalistas.

Esse aparato não impediu que Dilma enfrentasse o protesto de um pequeno grupo de engenheiros do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), que reclamava do reajuste salarial de 0,77%, concedido à categoria.

"Ela é Dilmais", comemoram governistas

O depoimento mobilizou praticamente todo o Senado, inviabilizando tanto a sessão deliberativa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) como a ordem do dia do plenário, transferida para hoje. O clima ameno levou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) a anunciar que pretendia homenagear a "mãe do PAC" com um presente.

- Vou antecipar a comemoração do Dia das Mães - disse o senador, contando que ofereceria a Dilma um cordão com um pingente de ouro na forma do mapa do Brasil.

A oposição, porém, estragou os planos de Salgado.

- A lei limita a R$100 o valor dos presentes que as autoridades podem receber - lembrou o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

Salgado já tinha pedido à líder do PT, Ideli Salvatti (SC), para entregar seu presente à ministra, mas acabou levando o embrulho de volta. Ele não quis revelar o valor do pingente, mas admitiu que extrapolava o limite estipulado pela lei.

Beneficiada pelo tropeço do líder do DEM, senador José Agripino (RN), no início da sessão, Dilma impôs seu ritmo, sem que a tropa de choque precisasse socorrê-la. À tarde, os governistas passavam de mão em mão uma folha branca com apenas uma frase em letras garrafais: "Ela é Dilmais!".