Título: Ayres Britto cobra de partidos fidelidade às suas ideologias
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 08/05/2008, O País, p. 16

Presidente do TSE evita falar se acha que PT traiu seu ideal

BRASÍLIA. No dia seguinte à posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Carlos Ayres Britto cobrou ontem dos partidos políticos que sejam fiéis às suas ideologias. Para ele, que já foi filiado ao PT, não faz sentido as legendas exigirem fidelidade de seus filiados quando elas desrespeitam a linha ideológica com a qual se comprometeram inicialmente. Sem citar caso específico, o ministro disse que alguns partidos "têm a fachada limpa mas, por dentro, são podres":

- Se o partido exige fidelidade de seu candidato eleito, e ele mesmo não é fiel ao seu programa, esse partido é um sepulcro caiado. É uma expressão antiga que significa que o túmulo, o sepulcro, o mausoléu é bonito por fora, mas não existe mausoléu bonito por dentro, vamos convir. O que tem ali é uma putrefação só.

Ayres Britto explicou que a Justiça Eleitoral pode colaborar com a mudança desse quadro permitindo a troca de partido por políticos que se sentirem traídos por eventual mudança de postura da legenda pela qual foram eleitos. De acordo com as regras da fidelidade partidária, essa é uma das hipóteses aceitáveis para mudança de legenda. As afirmações foram feitas durante sua primeira entrevista coletiva como presidente do TSE.

O ministro evitou responder se considerava o PT um dos partidos que havia traído seus ideais. Mas não se recusou a falar sobre os 18 anos em que militou na legenda. Informou que, quando ingressou no Judiciário, abandonou a militância.

- Entrei no PT atraído por duas bandeiras que o partido hasteava, e acredito hastear até hoje: a da democracia e a da ética da política. O PT contribuiu muito para a ética na política. Quando fui indicado ao Supremo, fiz o que, modéstia à parte, sei fazer na minha vida: eu viro a página, sem refugar nada, sem me arrepender de nada. Minha página partidária está definitivamente virada. O magistrado não pode ter preferência partidária, tem que ser imparcial.

Ayres Britto quer foto de suplentes nas eletrônicas

Ayres Britto sugeriu que a Justiça Eleitoral discutisse a possibilidade de incluir na urna eletrônica a foto dos suplentes de candidatos às eleições proporcionais e vices dos candidatos a cargos majoritários. Ele lembrou que é comum a esses políticos assumirem as vagas dos eleitos, mas nem sempre o eleitor sabe quem eles são.

- O eleitor vota para senador e não sabe que vota em dois suplentes. Na telinha só aparece a imagem do (candidato a) senador. Não é chegada a hora de a Justiça Eleitoral informar um pouco melhor o eleitor, colocando a imagem dos dois suplentes, para saber que você está votando em três pessoas? Não é raro o suplente assumir o mandato. E o vice-presidente, o vice-governador? Não é chegada a hora de identificá-lo para o eleitorado? - ponderou.

Questionado sobre a construção da nova sede do TSE, orçada em R$330 milhões, o ministro disse que ainda não teve tempo de avaliar se há exagero nos custos. Mas garantiu que, se isso for detectado, os excessos serão cortados:

- Não sei se a obra é faraônica ou não. Quero crer que não. O ministro Marco Aurélio (ex-presidente do TSE, que aprovou a obra) é muito zeloso no trato da coisa pública. Qualquer eventual excesso encontrará de nossa parte uma depuração, uma poda. Até porque estamos em vacas magras em termos orçamentários.