Título: Inflação acelera e se alastra
Autor: Ribeiro, Fabiana; Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 08/05/2008, Economia, p. 33

Em 12 meses, IGP-DI supera 10% pela 1ª vez desde 2005. Arroz subiu 27% no atacado em abril

Surpreendendo até as previsões mais pessimistas, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) avançou 1,12% em abril, acumulando 10,24% em 12 meses - a maior taxa desde março de 2005 (10,90%). Desde aquele ano, o índice não atingia dois dígitos. O indicador mensal ficou bem acima da expectativa dos analistas registrada na última pesquisa Focus do Banco Central (BC), que previa 0,55%. Os resultados divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que a inflação continua forte entre os alimentos, mas se alastra para outros segmentos. A principal pressão veio do atacado - arroz (27,78%), minério de ferro (13,48%) e adubos e fertilizantes (10,71%). Para analistas, o consumidor sentirá no bolso, em breve, as altas do atacado.

-- As pressões inflacionárias se mostram mais fortes do que há um mês se poderia imaginar. O IGP de abril revela que a inflação não é apenas de alimentos. Embora a alta tenha se generalizado, não há disparada -- disse Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV.

O Índice de Preços por Atacado (IPA) passou de 0,80% em março para 1,3% em abril. Os produtos industrializados, que subiram 1,77%, foram os principais responsáveis. Entre as altas: carne bovina (1,72%), leite (4,29%) e arroz processado (17,37%). Itens não-alimentares também pressionaram.

Para Quadros, este ano o IGP deve ser mais instável e com taxas mais altas, acima de 10% nos próximos meses. O espalhamento da inflação, diz, dá mais motivos para o BC manter a trajetória de alta dos juros iniciada em abril, quando a Selic foi elevada para 11,75% ao ano.

- A forte demanda internacional explica a inflação de minerais e de arroz, que também sofre pressão por causa de safras ruins na Ásia. E a alta dos fertilizantes encarece a produção de alimentos - afirma Gean Barbosa, analista da Tendências.

Trigo é a maior ameaça aos preços

Como a demanda no mercado interno também está aquecida, a alta no atacado deve ser facilmente repassada para o varejo, acreditam Barbosa e Elson Teles, economista da Concórdia. Os dois projetam mais três altas de meio ponto nos juros este ano.

- Agora, com o anúncio o IGP, fica mais difícil criticar o BC. Ele parece ter tomado a medida certa ao aumentar os juros - reconhece Teles.

Parte da alta do atacado já chegou ao varejo. No Prezunic, o arroz ficou 35% mais caro em maio. E, para Genival de Souza, diretor da rede, o preço está longe de ceder. No Zona Sul, o arroz encareceu 17,1% nos últimos 45 dias.

- As carnes, até outubro, podem encarecer 20%. A de segunda subiu 50% em 60 dias. E há outros artigos com perspectiva de alta, como macarrão, biscoitos e leite - disse Souza, destacando que os setores de arroz e feijão registraram queda de 10% nas vendas.

Na Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, o fardo de arroz (30 kg), vendido há um mês de R$36 a R$38, foi negociado ontem de R$52 a R$60 - alta de quase 50%. Já o quilo de cortes dianteiros de carne bovina subiu de R$3,20 no início do ano para R$4,40 (37,5% a mais).

- A maior ameaça vem do trigo. Se o país não resolver a questão com a Argentina (que restringiu exportações), podemos ter, além de mais alta, falta de produtos - frisou o presidente da Bolsa, José de Sousa, para quem o brasileiro sofrerá também devido ao reajuste de 8,8% no diesel e nos preços de adubos e fertilizantes.

A reação do consumidor é imediata, explica Aylton Fornari, presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio (Asserj). Com preços mais altos, há mudanças nos hábitos.

- As pessoas trocam os artigos ou reduzem o consumo - diz Fornari, ressalvando que há perspectivas positivas, já que são fartas as safras brasileiras de grãos.

Maria Moreira Amaral e seu filho Evaldo já notaram o encarecimento dos preços:

- Há algum tempo pagávamos R$1,50 ou R$1,60 pelo quilo de arroz de marca boa. Hoje, no mínimo R$1,99. Lá em casa o feijão foi substituído. Todos os dias não dá - disse Evaldo.

PREÇO DO PETRÓLEO FECHA A US$123,53, na página 34