Título: Uma derrota atrás da outra
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 14/05/2008, O País, p. 3

BRASÍLIA. Primeiro nome anunciado para o Ministério de Lula, em dezembro de 2002, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, passou boa parte dos últimos cinco anos e cinco meses na corda bamba. Da liberação de transgênicos às críticas de Lula pela demora na autorização de obras do PAC, Marina colecionou brigas e derrotas no governo. No fim do primeiro mandato, vivia o auge do desgaste quando sinalizou que o cargo era menos importante do que a preservação ambiental:

- Uma coisa é certa: eu perco o pescoço, mas não perco o juízo - disse Marina ao GLOBO, em dezembro de 2006.

Já no início do primeiro mandato, a ministra teve que engolir a sucessiva edição de medidas provisórias autorizando o plantio de soja transgênica no Rio Grande do Sul. Era a voz dos ruralistas falando mais alto. Depois viu o governo apoiar, no Congresso, mudanças no projeto da Lei de Biossegurança que tiravam poderes do Ibama na fiscalização de transgênicos.

Em novembro de 2004, ela negou que tivesse pedido para sair:

- De jeito nenhum. Nunca ameacei entregar o cargo ou pedi para sair. Ministro não ameaça presidente. E quando o ministro acha que não dá mais, vai lá e entrega a carta de demissão em caráter irrevogável - afirmou.

De um lado, Marina entrava em choque com o Ministério da Agricultura, na época comandado por Roberto Rodrigues. Do outro, com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. O conflito acirrou-se quando Dilma ascendeu à Casa Civil e assumiu a coordenação do PAC. Os entraves no Ibama para a liberação de hidrelétricas no Rio Madeira irritaram Lula.

Uma sucessão de desgastes levou Marina a cair, depois de vários enfrentamentos com o Planalto. Desde 30 de janeiro, Lula havia desautorizado a ministra sobre as causas do aumento do desmatamento na Amazônia, e deixado claro que não considerava alarmantes os dados do Inpe. Ali teria começado o problema.

Na avaliação no Palácio do Planalto, ela foi precipitada ao divulgar os números do Inpe que apontavam aumento do desmatamento na Amazônia. A maior preocupação era com a repercussão internacional. Lula não quer o carimbo de que não cuida do meio ambiente. Ao ser confirmada no Ministério por Lula em 2002, Marina declarou:

- A política ambiental do país precisa viver um novo momento. Sair daquela fase do não pode fazer para a fase de como fazer da forma correta. E é por isso que no programa de Lula ele trabalha a idéia de criarmos instrumentos econômicos para viabilizar o desenvolvimento sustentado.

Quatro anos depois, em entrevista ao GLOBO, ela foi indagada se ficava chateada ao saber que seu nome era cotado para deixar o governo na reforma ministerial.

- Eu ficaria chateada se, ao final desses quatro anos, se falasse em desenvolvimento no país sem falar na questão do meio ambiente. Eu me preocupo com o desenvolvimento econômico, mas não concordo que seja preciso derrubar a floresta para produzir grãos.