Título: Paulinho foi avisado sobre a operação da PF
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 14/05/2008, O País, p. 9

Araponga da Força conta que mandou avisar a deputado ao obter informação de que gente dele estava sendo investigada

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), foi avisado, na véspera da Operação Santa Teresa, de que na manhã seguinte "alguma coisa grave" poderia acontecer com seus aliados. A informação consta do depoimento do coronel da reserva da Polícia Militar Wilson Consani Júnior, espécie de araponga da Força Sindical e acusado de integrar a quadrilha que explorava prostituição e cobrava propinas para facilitar empréstimos junto ao BNDES.

Consani disse à PF que foi convocado, no dia 23 de abril, para uma reunião urgente com outros supostos integrantes da quadrilha na boate W.E., um prostíbulo na região da Avenida Paulista pertencente ao empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco, também acusado de integrar o grupo.

No bordel, a quadrilha foi avisada por um homem com deficiência física, possivelmente policial federal, que a partir das 6h da manhã seguinte a PF desencadearia prisões e ações de busca e apreensão. Os objetivos seriam a exploração da prostituição e liberações de verbas no BNDES. Entre os alvos estaria o advogado Ricardo Tosto, até então integrante do conselho administrativo do BNDES, indicado pela Força Sindical.

Ao ouvir o nome do advogado, Consani telefonou para o presidente estadual do PDT, José Gaspar, que foi aconselhado a alertar Tosto para que ele dormisse fora de casa a fim de evitar a prisão. Na seqüência, o coronel ligou para um cunhado e assessor de Paulinho. O deputado, nas interceptações telefônicas, é chamado de "nosso amigo" e "nosso chefe maior".

Consani disse que decidiu avisar Paulinho, embora ele não fosse investigado, por ter direito a foro especial, porque ficou sabendo da presença de Tosto, "pessoa ligada ao Paulinho, que exerce cargo no partido", entre os investigados.

A PF desconfia que a Operação Santa Teresa começou a vazar em março, um mês antes de ser deflagrada. O Ministério Público Federal determinou abertura de inquérito para apurar o vazamento.

O deputado almoçou em Brasília com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e discutiu sua estratégia de defesa na Corregedoria da Câmara. Ele tentou antecipar a entrega de sua defesa ao corregedor Inocêncio de Oliveira (PR-PE), que, porém, só chega a Brasília hoje. Paulinho estava abatido e cabisbaixo.

Ainda sem saber do depoimento de Consani, o deputado disse que está preparado para responder a todas as denúncias. Hoje a executiva nacional do PDT volta a se reunir, e seu caso deverá ser reavaliado.

- Vou mostrar que tudo é armação política e sindical. Ou você acha que sou tão poderoso? - disse Paulinho.

Lupi disse que nem ele nem Paulinho têm o que temer.

- Vocês do GLOBO me amam, me investigam há mais de um ano e não encontraram nada de errado. Meu único instrumento de vida é a verdade. O Paulinho e a mulher dele já tinham colocado o sigilo pessoal e da ONG (Meu Guri) à disposição da Justiça. A informação que o Paulinho dá é de total tranqüilidade. Quem não deve não teme.

Mais tarde, o deputado foi procurado para comentar o depoimento de Consani, mas não se pronunciou.

COLABOROU: Maria Lima