Título: Na Uerj, mais vagas que interessados
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 14/05/2008, O País, p. 13

Em 2007, foram 673 candidatos autodeclarados negros para 1.048 vagas

Sete anos após sua implantação, o sistema de cotas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) está em fase de avaliação. Um estudo produzido pela universidade, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Ministério da Educação (MEC), deverá ser concluído até o fim do ano para aferir os resultados do sistema de cotas, implantado em 2001. O reitor Ricardo Vieiralves, favorável à reserva de vagas, disse que a avaliação contará com indicadores para que a sociedade discuta a respeito da ação afirmativa:

- Estamos fazendo uma profunda reavaliação do sistema. No ano passado, nós oferecemos mais vagas para o sistema de cotas do que o número de estudantes inscritos. Precisamos saber o que está acontecendo. A intenção é mostrar dados como o desempenho dos cotistas na universidade, problemas enfrentados durante sua formação, além da inclusão dos formados no mercado de trabalho. Será um estudo bem abrangente.

No vestibular do ano passado, a universidade ofereceu 1.048 vagas para quem se autodeclarou negro, sendo que apenas 673 estudantes com esse perfil se candidataram. Desses, 439 foram aprovados. O mesmo número de vagas foi oferecido para estudantes da rede pública, que recebeu 1.292 inscritos, com 787 classificados. Na seleção de 2006 (para ingresso em 2007), foram 1.031 vagas reservadas para autodeclarados negros, sendo 753 inscritos e somente 432 aprovados. A cota para estudantes da rede pública também reservou 1.031 vagas, tendo 1.581 inscritos e 830 aprovados.

Para Douglas Belchior, da coordenação nacional do Educafro - rede de pré-vestibulares voltado para negros e carentes -, a queda pela procura pelo sistema de cotas se deve à falta de divulgação das instituições e de uma campanha contrária às ações afirmativas.

Para o reitor Ricardo Vieiralves, o sistema de cotas é uma ação com tempo marcado.

- As cotas são um sistema para reparar a desigualdade social. Na medida em que ela só existe para reparar essa diferença, eu tenho a crença que ela cumprirá o seu papel pelo tempo necessário e depois será extinta - acredita.

Atualmente, a instituição reserva 20% de suas vagas para quem fez ensino fundamental em escolas públicas de qualquer estado do país e o ensino médio em colégios públicos do Estado do Rio. Outros 20% são destinadas aos candidatos que se autodeclararam negros. Nos dois casos, a renda per capita bruta, até o concurso do ano passado, deve ser de até R$630. Para portadores de deficiência ou integrantes de outras minorias étnicas são reservadas 5% das vagas.