Título: Lula compara nova política a plano de militares
Autor: Almeida, Cássia ; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 13/05/2008, Economia, p. 22

Mas presidente diz que nos anos 70, como o Executivo tinha "muito mais poder", era mais fácil implementar medidas

Cássia Almeida, Eliane Oliveira, Liana Melo e Luciana Rodrigues

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou boa parte de seu discurso de 35 minutos para comparar a série de medidas que compõe a Política de Desenvolvimento Produtivo para lembrar os planos de desenvolvimento anteriores, inclusive o Plano de Metas (1956), de Juscelino Kubitschek, e o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), lançado pelo general Ernesto Geisel em 1974, quando o país estava mergulhado na ditadura militar:

- Nosso país quer recuperar a capacidade de criar e ousar e, por isso mesmo, a Política de Desenvolvimento Produtivo tem forte amplitude e ambições comparáveis às de outras iniciativas, que em outras épocas ajudaram a transformar economicamente o país, como o Plano de Metas nos anos 50 e 60 e o segundo PND, nos anos 70.

Lula faz homenagem a ex-ministro Reis Velloso

Mas Lula fez questão de mostrar as diferenças entre os dois períodos de implementação de políticas industriais: os anos 70 e agora. Disse que João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento e um dos idealizadores do PND, que foi homenageado pelo presidente Lula ontem, teve mais facilidade de implantar as medidas naquele momento:

- Certamente, Reis Velloso tinha mais facilidade do que nós porque, naquele tempo, 60% do PND estavam escorados em empresas públicas brasileiras, o Estado era muito mais forte do que hoje, o presidente tinha muito mais poder que hoje. E eu preciso ter mais flexibilidade do que vocês precisavam naquela época.

O PND dos anos 70, considerado o pacote de medidas mais completo até então, estimulou o crescimento econômico, com a era do milagre, mas aumentou a dívida externa.

Lula afirmou que o país viveu 25 anos de estagnação e sem qualquer política para deslanchar o crescimento do país:

- Queremos consolidar a vitória do Brasil sobre 25 anos de incertezas, de crescimento volátil e baixo. Durante 25 anos, paramos de planejar e de acreditar que nossos filhos e netos poderiam ter uma vida melhor. Foram 25 anos de marasmo e apatia, que impediram os empresários de investir em novas fábricas e criar novos empregos. Felizmente, estamos virando essa página.

Para Lula, crise de alimentos é oportunidade

Até as agruras que o mundo vive atualmente, como alta do preço dos alimentos e o aquecimento global, foram consideradas oportunidades pelo presidente da República.

- Alguns se assustam com esse fenômeno. O Brasil, não. Temos terras férteis, sol, tecnologia, força de trabalho, capacidade empresarial e agricultura familiar para responder a esse desafio. Não estamos diante de um risco, mas de uma oportunidade, e não pretendemos desperdiçá-la.

O setor de tecnologia mereceu atenção no discurso, do mesmo tamanho das subvenções e desonerações do pacote de medidas de incentivo. Para o presidente, o Brasil tem reais possibilidades de ocupar a liderança em segmentos importantes de tecnologias.

- O complexo industrial da saúde, da aeronáutica e das energias (inclusive a nuclear), a agricultura, a indústria automobilística e as tecnologias da informação e comunicação. Em todas essas áreas temos grandes ativos, mas nossos competidores são fortes. Por isso, o Brasil não pode deixar de redobrar esforços para se aproximar das fronteiras da ciência e da inovação tecnológica.