Título: Salas de aula viram cemitério
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 14/05/2008, O Mundo, p. 29
Tensão aumenta ao redor da escola onde 700 crianças foram soterradas
DUJIANGYAN, China. Passava das duas horas da manhã (15h de ontem em Brasília), quando a equipe de busca que procura os corpos de cerca de 700 crianças soterradas pelo edifício de três andares da Escola de Ensino Básico e Médio de Juyan, a cerca de cem quilômetros do epicentro do terremoto, decidiu fazer uma pausa, exausta após 36 horas ininterruptas de trabalho. Foi quando o grupo de cerca de cem pais e mães dos alunos entrou em desespero.
¿ Vocês não podem desistir da minha filha! ¿ gritava Hechang Hua, mãe de uma aluna de 16 anos.
¿ Por que pararam se ainda tem criança viva? ¿ gritava Puchang Xue, pai de um garoto de 14 anos. ¿ Se os soldados e os voluntários estão cansados, nós podemos cavar com as próprias mãos!
Sob a chuva torrencial, um dos comandantes que coordenam os trabalhos da equipe de resgate ordenou aos soldados que protegessem o local das escavações, onde ficava a escola. Das cerca de 700 crianças que se estimam soterradas, 200 foram achadas até agora, todas mortas. Mas a polícia não apenas não liberou os corpos como mantém os pais sem informações sobre o andamento do resgate.
¿ Eu quero a minha filha, mesmo que seja apenas o cadáver ¿ chorava Hechang Hua, que, junto com o grupo de pais, está desde o terremoto sem dormir.
Há um ar de exaustão geral e frustração à medida que o resgate é interrompido, já que poucos acreditam, a esta altura, que ainda haja alguma criança viva. Os pais alegam que os coordenadores da operação lhes disseram, na manhã de ontem, que havia a chance de que cerca de dez crianças estivessem com vida sob uma enorme lage. A idéia era abrir um buraco no concreto com a ajuda de um guindaste para tentar içar os jovens. Mas a paralisação de madrugada trouxe desespero:
¿ Vocês não podem parar agora! ¿ gritavam os pais.
Segundo relatos de moradores locais, somente uma turma de jovens que fazia ginástica no pátio da escola na hora do terremoto conseguiu se salvar. (G.S.J.)