Título: Ciclone: birmaneses agem por conta própria
Autor: Scofield Jr, Gilberto
Fonte: O Globo, 13/05/2008, O Mundo, p. 26
Ação lenta do governo e barreira à ajuda externa fazem população sair em socorro às vítimas
RANGUM. A lenta resposta do governo de Mianmar (antiga Birmânia) no socorro às 1,5 milhão de vítimas gravemente afetadas pelo ciclone Nargis, que destruiu cidades no sul do país há 11 dias, levou a população a agir por conta própria. Moradores da capital estão enchendo os próprios carros com mantimentos e distribuindo-os no interior.
¿ O governo não está fazendo nada, então temos que tentar ¿ disse o empregado de uma empresa que rumava a Pathein com a caminhonete carregada de arroz e água.
Twante, a uma hora de Rangum, era o destino de Thi Ha, um motorista de 24 anos que se juntou a dez amigos e encheu duas picapes com biscoitos e garrafas d'água para as vítimas.
¿ Todo mundo devia tentar dar alguma coisa. As pessoas são muito pobres. Eles realmente precisam ¿ disse.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se disse ontem imensamente frustrado com a postura do governo militar, que vem embarreirando a entrada de ajuda humanitária no país.
¿ Hoje é o 11º dia desde que o Nargis atingiu Mianmar ¿ disse Ban Ki-moon. ¿ A menos que a ajuda chegue a esse país muito rapidamente, deparamo-nos com o perigo de haver uma epidemia de doenças contagiosas que faria a atual crise perder importância.
A junta militar que governa o país admitiu que não enviou ajuda a várias regiões afetadas, que continuavam isoladas dez dias depois do desastre. Apenas 270 mil haviam recebido algum tipo de assistência. Na semana passada, Mianmar ¿ um dos países mais fechados do mundo ¿ anunciou que doações internacionais eram bem-vindas, mas que não estava pronto para receber estrangeiros e que se encarregaria da distribuição.
Número de mortes confirmadas sobe para 32 mil
Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, o volume de alimentos que chegou ao país é menos de um décimo do necessário.
Ontem, o chefe da área de assuntos humanitários da ONU, John Holmes, afirmou que a emissão de vistos a funcionários da entidade havia começado finalmente a virar realidade, embora num ritmo ainda muito inferior ao necessário. Segundo ele, 34 vistos de entrada foram concedidos.
O número oficial de mortos subiu para 32 mil, mas autoridades acreditam que o total de vítimas passe de 80 mil.
O primeiro avião americano com ajuda humanitária chegou ontem a Mianmar. Os EUA esperam mandar mais dois aviões e US$13 milhões em doações por agências da ONU.