Título: Ambientalistas reagem a troca com descrença
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 15/05/2008, O País, p. 9

Para ONGs, saída de Marina simboliza rompimento do governo com a agenda do desenvolvimento sustentável

SÃO PAULO. O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, deverá ser recebido pelas ONGs ambientais sob um clima de frustração e descrença no governo federal. Várias entidades avaliaram ontem que Minc tem um perfil adequado para o cargo, mas frisaram que a saída de Marina Silva simbolizou um rompimento do governo com a agenda para o desenvolvimento sustentável. Alguns avaliaram que o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff querem apenas um "carimbador" que viabilize as obras do PAC.

- Nossa relação com o Minc é ótima, até porque ele marchou conosco em vários momentos e é muito fácil dialogar com ele. Mas nós sabemos exatamente o que significará sentar-se naquela cadeira, seja quem for. O problema não é nome nem perfil, é a opção do governo - disse o diretor de campanhas do Greenpeace, Marcelo Furtado, após frisar que o futuro ministro será cobrado da mesma forma que Marina foi

O MST, a Rede Social de Justiça e a Amigos da Terra/ Amazônia Brasileira fizeram avaliações semelhantes.

- A troca de nomes não leva a qualquer melhoria. O perfil, o nome não era problema no meio ambiente, mas sim a postura do governo, que precisa mudar. Com todo o nome e o perfil que sempre teve, Marina não conseguiu que houvesse priorização do meio ambiente em nada. Por que Minc ou qualquer outro ambientalista conseguiria?- avalia Mário Menezes, diretor da Amigos da Terra.

No entanto, segundo Menezes, a mudança deve acontecer a partir dos próprios movimentos sociais. Ele frisa que Minc não será recebido com animosidade, mas a saída de Marina fará com que muitos grupos voltem a se mobilizar:

- Marina encarnava em si os movimentos, que com isso acabaram perdendo seu poder de mobilização. Minc não tem o mesmo carisma, apesar de toda a experiência e o jogo de cintura. Talvez, com isso, a pressão dos movimentos aumente.

Já a WWF-Brasil se disse otimista com a mudança:

- O nome foi muito bem escolhido. Minc tem todas as credenciais, é uma pessoa de diálogo, que interage também com os setores produtivos. Nós esperamos uma continuidade na política do Ministério - disse a secretária-geral da WWF-Brasil, Denise Hamu.

O secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor da Coppe/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa disse acreditar que Minc adotará uma "política de continuidade", principalmente em relação ao desmatamento da Amazônia.