Título: Navalha: denunciados ainda mantêm cargos em estatais
Autor: Damé, Luiza; Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 15/05/2008, O País, p. 12

Rondeau integra conselhos e Valter Cardeal, diretoria

BRASÍLIA. Denunciado à Justiça por envolvimento com a máfia que fraudava licitações desarticulada pela Operação Navalha, o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau continua com prestígio no governo. Rondeau ainda representa o governo federal em conselhos de administração de duas importantes empresas do setor energético: Itaipu e Petrobras. Outro denunciado pelo MP Federal é diretor de Engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal, homem de confiança de Dilma Rousseff quando ela comandava o Ministério de Minas e Energia.

Na denúncia, as subprocuradoras Célia Regina Delgado e Lindôra Araújo pedem o "afastamento dos denunciados ocupantes de cargos públicos". O mandato de Rondeau no Conselho de Administração da Petrobras, no entanto, foi renovado no último dia 4 de abril. Ele é representante do acionista majoritário da estatal, a União. Cardeal foi defendido pela diretoria da Eletrobrás, que divulgou nota oficial em que diz ter plena confiança em seus dirigentes.

O conselho da Petrobras, presidido pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, se reúne mensalmente, e os conselheiros recebem cerca de R$4.500 por participação nas reuniões. Já o Conselho de Administração de Itaipu tem reuniões bimestrais e paga cerca de R$14 mil por participação. A indicação de ministros e assessores para os conselhos das estatais é uma forma adotada pelo governo para complementar salários e já era adotada em gestões passadas.

Os conselheiros são indicados pelo presidente da República e, de um modo geral, não têm um mandato definido, podendo ser substituído ou mantido por decisão do Palácio do Planalto.

"Não há motivo algum para eu deixar o cargo"

Rondeau é acusado pelo MP Federal de ter recebido R$100 mil de propina para liberar pagamentos à empresa Gautama, de Zuleido Veras, apontado como chefe da quadrilha. Ele não foi localizado para comentar a denúncia. O esquema, desvendado pela Operação Navalha, da Polícia Federal, teria desviado cerca de R$300 milhões dos cofres públicos.

Já o diretor de Engenharia da Eletrobrás, Valter Cardeal, é acusado pelo MPF de participar da alteração e prorrogação de contratos do programa "Luz para todos" no Piauí que beneficiaram a Gautama. Ele foi denunciado pelos crimes de formação de quadrilha, crime contra o sistema financeiro (desvio de recursos) e gestão fraudulenta.

Cardeal, segundo a denúncia, chegou a ocupar o cargo de presidente da Eletrobrás no período em que foram alterados os contratos do "Luz para todos", em 2005. Segundo fontes do setor energético, sua manutenção no cargo foi bancada por Dilma. Por e-mail, ele classificou as conclusões do MPF como "precipitadas e equivocadas" e que todos os seus atos na estatal foram "dentro da legalidade". E considerou absurdo o pedido de afastamento:

- Não há motivo algum para eu deixar o cargo. Me considero, sim, bem à vontade e muito seguro para continuar no cargo, pois sempre pautei minha conduta profissional com rigor e respeito ao interesse público.